MARINA DIAS BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) – A presidente afastada Dilma Rousseff afirmou nesta segunda-feira (30) que seu governo nunca teve um ministro da CGU (Controladoria-Geral da União) afastado e que o órgão, na gestão interina de Michel Temer, teve o objetivo de “tornar obscura” a transparência da administração pública. Dilma se referia ao pedido de demissão, nesta segunda, do ministro Fabiano Silveira (Transparência, Fiscalização e Controle, antiga CGU), depois do vazamento de conversas gravadas pelo ex-presidente da Transpetro Sérgio Machado. Nos diálogos, Silveira orienta o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), seu padrinho político, e o próprio Machado a atuarem diante da Operação Lava Jato, na qual ambos são investigados.

“É interessante assinalar que hoje o segundo ministro interino e provisório se afasta [o primeiro foi Romero Jucá, do Planejamento]. Nunca tivemos o ministro controlador-geral da União afastado. Nunca o ministro da CGU deixou de fazer sua função, que é a transparência de governo. Achei muito estranho que eles tivessem olhado o ministério da CGU e transformado no ministério da transparência. Pensei que era uma jogada de marketing. Agora tenho certeza que era para tornar obscura a transparência”, afirmou Dilma durante lançamento do livro “A resistência ao golpe de 2016”, em Brasília.

Segundo a presidente afastada, as gravações feitas pelo ex-presidente da Transpetro com integrantes da cúpula do PMDB têm um “silêncio estarrecedor” sobre o processo de seu impeachment e o objetivo de “evitar que crimes cometidos por eles sejam desvendados” com a “paralisação” da Lava Jato. “O golpe, sem sombra de dúvidas, tem dois motivos: um é parar a Lava Jato, o outro é impedir que nós continuemos com a nossa política de inclusão social”, disse Dilma.

Na semana passada, o ex-ministro Romero Jucá (Planejamento) foi exonerado do governo Temer após o vazamento de uma conversa com Machado em que sugeria um pacto para “estancar a sangria” da Lava Jato. Para a petista, os áudios que derrubaram dois ministros de Temer não indicam razões para o crime de responsabilidade fiscal do qual ela é acusada e julgada pelo Senado, mas mostram que “eles querem acabar com programas sociais” criados durante o governo do PT. “Não atenderão nenhum pobre nesse país”, disse Dilma.

‘NÃO NOS INTIMIDARÃO’

O ex-ministro José Eduardo Cardozo (Advocacia-Geral da União), que acompanhou a petista no evento, rebateu opositores que criticam o uso da palavra “golpe” na defesa de Dilma para definir o processo de impeachment. Segundo ele, é preciso “continuar lutando”: “eles não nos intimidarão”, afirmou. “Jamais imaginava que eu, como advogado, tivesse que lutar contra um golpe de Estado no meu país, que não tem canhões, não tem armas, baseado na retórica jurídica”, afirmou Cardozo. “Como a palavra ‘golpe’ incomoda. […] Eles não nos intimidarão. Vamos continuar juntos, lutando pela democracia, para a transformação”, completou.

Em seu rápido discurso, o ex-ministro Eugênio Aragão (Justiça) chamou de “desgoverno” a gestão interina de Michel Temer e disse que o impeachment de Dilma foi uma “tentativa vil de tomar o poder por um grupo que não tem respeito pelas pautas sociais e coletivas”. “Vimos, nesses 15 dias de desgoverno, o desmantelamento de uma máquina administrativa que funciona, que deu certo e proporcionou programas sociais”, disse o ex-ministro. Segundo Aragão, foi esse “desmantelamento da máquina” do governo do PT o “motivo do golpe”. Durante o evento, a plateia, de simpatizantes do governo do PT, entoava gritos de “fora, Temer” e “não vai ter golpe”. Do lado de fora do Memorial Darcy Ribeiro, no campus da Universidade de Brasília, foi montado um palco no qual artistas se apresentavam e também gritavam palavras de ordem contra o presidente interino.