EULINA OLIVEIRA SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Depois de três meses seguidos de alta, o Ibovespa terminou o mês de maio com queda de 10,09% -a maior desde setembro de 2014, quando o índice perdeu 11,70%. O dólar fez o caminho inverso e fechou o mês de maio com ganho de 5%. Segundo analistas, concretizado o afastamento da presidente Dilma Rousseff, no qual o mercado apostava, investidores aproveitaram para embolsar os lucros obtidos no período de euforia pré-impeachment. Ao mesmo tempo, a crise política voltou a dar sinais de que está longe de acabar -em 19 dias de governo Temer, dois ministros caíram por causa de gravações de conversas feitas por Sergio Machado, ex-presidente da Transpetro e delator da Operação Lava Jato. Investidores temem que o novo governo tenha dificuldades para aprovar no Congresso as medidas para recuperar a economia. Além disso, em maio, dois presidentes de grandes empresas foram indiciados no âmbito da Operação Zelotes, que operação investiga a venda de sentenças do Carf (conselho administrativo de recursos fiscais). Nesta terça-feira (31), as ações preferenciais do Bradesco terminaram em queda de 5% com a notícia do indiciamento do presidente do banco, Luiz Trabuco. No último dia 16, o presidente da Gerdau, André Gerdau, foi indiciado na mesma operação. A esse cenário, somam-se as crescentes apostas de que o Fed (Federal Reserve, o banco central americano) vai elevar os juros em breve, o que direciona investimentos para a maior economia do mundo, em detrimento dos mercados emergentes. BOLSA O Ibovespa fechou a sessão desta terça-feira em baixa de 1,01%, aos 48.471,71 pontos. O giro financeiro foi robusto, de R$ 9,9 bilhões, inflado pelo rebalanceamento da carteira do índice MSCI (Morgan Stanley Capital International) de mercados emergentes. Em maio, o principal índice da Bolsa paulista perdeu 10,09%, contra ganhos de 7,70% em abril, 16,97% em março e de 5,91% em fevereiro. Em janeiro, o Ibovespa caiu 6,79%. No ano, o índice sobe 11,81%. Nesta terça-feira, o humor dos investidores piorou após a informação de que a Polícia Federal indiciou o presidente do Bradesco, Luiz Trabuco, e outras nove pessoas no âmbito da Operação Zelotes, que investiga a venda de sentenças do Carf (Conselho Administrativo de Recursos Fiscais). As ações PN do Bradesco recuaram 5%, para R$ 22,80; os papéis ON do banco perderam 3,69%, a R$ 24,51. Ainda no setor financeiro, Itaú Unibanco PN perdeu 2,18%; Banco do Brasil ON, +0,36%; Santander unit, -1,97%; e BM&FBovespa ON, -0,50%. As ações PN da Petrobras perderam 4,05%, a R$ 8,04, e as ON recuaram 3,78%, a R$ 10,18. Os papéis PNA da Vale caíram 1,14%, a R$ 11,24, e os ON tiveram baixa de 0,42%, a R$ 14,22. Rafael Ohmachi, analista da Guide Investimentos, lembra que a Bolsa subiu nos três meses anteriores principalmente por causa das apostas de que a presidente Dilma Rousseff seria afastada no processo de impeachment. “De lá para cá, a percepção de risco do país aumentou, com o envolvimento de políticos na Operação Lava Jato e de empresas na Operação Zelotes”, afirma. “A leitura é de que a recuperação do país não será tão fácil.” “As incertezas aumentam com a delação premiada de Marcelo Odebrecht [preso na Lava Jato], que poderá implicar ainda mais políticos na operação”, comenta Ari Santos, gerente de renda variável da corretora H. Commcor. CÂMBIO E JUROS O dólar comercial, utilizado em contratos de comércio exterior, encerrou o pregão desta terça-feira em alta de 0,97%, a R$ 3,6140. Em maio, a moeda acumulou ganho de 5,06% sobre o real. A moeda americana à vista, referência no mercado financeiro, terminou em alta de 0,06%, cotada a R$ 3,5951 -no mês, avançou 4,19%. Além do cenário político conturbado, a formação da taxa Ptax do último dia do mês, que serve de referência a vários contratos cambiais e é calculada pelo Banco Central, influenciou os negócios. Segundo analistas, além do cenário político conturbado, o mercado também reagiu negativamente ao adiamento da sabatina do economista Ilan Goldfajn, indicado para presidir o Banco Central no novo governo. A sabatina acabou sendo marcada para a próxima terça-feira (7), às 10h. Havia a expectativa de que a arguição pudesse acontecer nesta quarta (1º) na CAE (Comissão de Assuntos Econômicos do Senado), o que viabilizaria a posse de Goldfajn no cargo antes da realização da primeira reunião do Copom (Comitê de Política Monetária) -responsável por definir a taxa básica de juros (Selic), em junho. Ela ocorrerá na próxima terça (7) e quarta-feira (8) e, com a decisão da CAE, terá a participação do atual presidente do BC, Alexandre Tombini. No mercado de juros futuros, o contrato de DI para janeiro de 2017 subiu de 13,635% para 13,645%. O contrato de DI para janeiro de 2021 avançava de 12,740% para 12,850%. O CDS (credit default swap), espécie de seguro contra calote e indicador da percepção de risco do país, subia 3,35%, para 362,618 pontos. Em maio, o CDS sobe quase 7%. EXTERIOR Na Bolsa de Nova York, o Dow Jones terminou em queda de 0,48%, o S&P 500, -0,10% e o Nasdaq, +0,29%. Os gastos do consumidor americano em abril vieram acima do esperado, reforçando as apostas de alta dos juros nos EUA nos próximos meses. Na Europa, as Bolsas recuaram, pressionadas pelos papéis de bancos. Investidores aguardam a decisão de política monetária do BCE (Banco Central Europeu), nesta quinta-feira (2). Na China, o índice CSI300, que reúne as maiores companhias listadas em Xangai e Shenzhen, e o índice de Xangai avançaram 3,35% e 3,32%, respectivamente. O motivo são as apostas de investidores de que as ações chinesas serão incluídas pela primeira vez no índice MSCI de emergentes. O índice Nikkei da Bolsa de Tóquio subiu 0,98%.