O grito da gente é por igualdade, afirmou a brasileira Maria Rita Nunes, de 30 anos, estudante de doutorado, que mora há dois anos em Lisboa, e participou ontem (1º) de uma  manifestação contra o machismo e a cultura do estupro, na capital portuguesa. Manifestações semelhantes, convocadas pelas redes sociais, ocorreram também nas cidades de Coimbra e Porto. Centenas de pessoas se reuniram para protestar, com cartazes e as mãos pintadas de tinta vermelha, em apoio à jovem brasileira vítima de estupro coletivo no Rio de Janeiro, na semana passada.

Aqui em Portugal, a manifestação foi espontânea. O megafone estava aberto e as pessoas iam e contavam as suas histórias. Houve, inclusive, relatos de mulheres que foram abusadas por parentes. O intuito maior é o da união das mulheres e de dar força umas para as outras em relação ao machismo e a essas discriminações, disse Maria Rita à reportagem.

Em Lisboa, o protesto reuniu cerca de 300 pessoas na Praça da Figueira, centro da capital. Santa ou vadia – não te devo nada, Mexeu com uma mexeu com todas, Chega da cultura do estupro e Saias não violam, violadores sim, diziam alguns dos cartazes afixados na praça.

É preciso eliminar a cultura do machismo e do estupro. Não devemos ensinar as mulheres a terem medo de sair de casa, nem ensiná-las o que devem fazer ou como se comportar, pois essa cultura não é ensinada aos homens. É uma cultura patriarcal de que a mulher tem que controlar tanto o seu desejo quanto o do outro, afirmou Maria Rita.

As manifestações foram convocadas nas redes sociais para as 17h, horário local, e terminaram, em Lisboa, por volta das 20h. Participaram integrantes de movimentos sociais portugueses e brasileiros, além de pessoas que souberam do protesto e se juntaram ao grupo.

Maria Rita, que faz parte do Coletivo Andorinha – Frente Democrática Brasileira de Lisboa, movimento surgido no início do ano para protestar contra o impeachment, disse que, durante o ato, houve declarações de apoio à presidenta Dilma Rousseff. Há a questão da discriminação que a Dilma está sofrendo em relação a ser mulher e a associação de que o governo foi mal por ela ser mulher. Dizer que uma mulher não sabe governar é também uma forma de discriminação.

Na cidade do Porto, o protesto foi organizado pelo Colectivo Feminista do Porto e os manifestantes se deitaram no chão, em silêncio, como forma de protestar contra o silenciamento das vítimas de violência de gênero. Os atos no Porto aconteceram na Avenida dos Aliados, e em Coimbra, na Praça 8 de Maio.

Segundo dados do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, divulgado em outubro de 2015, a cada 11 minutos uma mulher é violentada no Brasil. A brutalidade do estupro sofrido pela jovem brasileira, exposta com a divulgação de um vídeo por um dos acusados, causou revolta ao redor do mundo. O caso foi amplamente noticiado em Portugal e comparado ao estupro coletivo de uma jovem na Índia, em 2012.

De acordo com o Observatório de Mulheres Assassinadas (OMA), em 2015, 27 mulheres foram assassinadas em Portugal, a maioria com armas brancas e de fogo utilizadas pelos maridos ou companheiros.