Verdade que o momento não é o mais auspiciosos: o Sena inundando Paris, a ameaça de terrorismo na Cidade Luz e em toda a Europa, a queda de até 40% no volume de negócios da hotelaria de luxo francesa depois dos atentados de novembro de 2015.

Mas ícone é ícone e, após quatro anos fechado em trabalhos de reformas, que utilizaram 400 milhões de euros, reabriu o mais célebre dos hotéis palácio da França: Ritz, o mítico estabelecimento da Place Vendôme reabriu rejuvenescido e eterno, com uma história que iniciou no século XX com Marcel Proust, um dos fantasmas famosos do endereço onde mora o luxo francês. Outro fantasma permanente é Coco Chanel, que fez do hotel palácio sua casa durante três décadas. Sem esquecer da eterna princesa Diane, que viveu seus últimos momentos no Ritz.

Eric Martin

O majestoso lobby onde predomina o azul royal, dá boas vindas aos hóspedes do Ritz de Paris, que reabriu portas após quatro anos de trabalhos

O hotel simboliza a art de vivre à la française, harmonizando dourados, tapeçarias, funcionários em libré, pratarias, porcelanas, veludos, sedas e cristais. Ritz continua sendo o luxo absoluto. Hoje propriedade de Mohamed al-Fayed, apesar da remodelação manteve o essencial de sua beleza original: o lobby em galeria, como era em 1818, as poltronas colocadas 2 a 2 que voltaram a seus lugares de sempre, tudo tendo como pano de fundo as pesadas cortinas de veludo azul royal.

Tapetes suntuosos aquecem o chão de mármore branco e o salão Marcel Proust destaca o retrato do escritor, cópia da obra de Jacques-Emile Blanche e abre caminho para uma grande biblioteca decorada com madeira de lei. Canapés, poltronas, consoles de madeira trabalhada fazem a decoração ao salão de chá, onde são servidos doces e salgados tradicionais, assinados pelo chef pâtissier François Peret.


Jardim Secreto do novo Ritz: um luxo a mais, na capital francesa

A água jorra da fonte junto do terraço Vendôme, onde funciona o bar que reúne a alta sociedade e dá acesso ao restaurante L’Espadon, dirigido pelo chef Micolas Sole. Os sofás Louis XV continuam posicionados em torno das mesas.

No lado da rua Cambon funciona o segundo prédio, dos anos 1910. A passagem foi repaginada com vitrais de luxo e cinco novas boutiques com artigos de viagens para poucos e bons. Grandes portas dão acesso ao Jardim Ritz, antes ignorado, agora o segredo mais bem guardado da Cidade Luz. Árvores e plantas em canteiros semelhantes aos de Versailles, enfeitam o espaço de 1.650 metros quadrados.


O auge dos anos loucos tinha como sede de luxo o Ritz de Paris

Ao lado funciona o bar Hemingway, onde impera o considerado melhor barman do mundo, Colin Peter Field. A escadaria faz justiça ao luxo do Ritz, com uma grande luminária em ferro trabalhado, laterais de época e corrimão de metal dourado. Leva aos quartos, espaçosos, com roupa de cama assinada por Pierre Frey e maison Veraseta. Fica no primeiro andar a maior suíte do hotel – Impériale — com paredes de 6 metros de altura, relevos classificados com monumento histórico, tecidos de seda selvagem bordada, um grande leito, lembrando ainda uma vez Versailles e o quarto da rainha.

No segundo andar ficam as outras suítes, incluindo a famosa de Coco Chanel, da época em que Mademoisellemorou durante 3 décadas no hotel. Na verdade Chanel mudou várias vezes de suítes, mas a lenda é sempre mais forte do que a realidade. Os móveis mostram o que havia de melhor nos anos 50, a cor predominante é o creme e os detalhes são em preto.


A partir de mil euros, dá para ocupar um espaço no Ritz de Paris. E quem preferir a suite presidencial, tem que reservar 28 mil euros. Por uma noite

Apesar das inovações, foram mantidos muitos objetos criados por Charles Ritz, como um botão que, acionado, chama os funcionários na copa do hotel, bem no estilo 1898, lembrando o seriado Downton Abbey…

No terceiro andar ficam as suítes mais simples, já que estão localizadas nas mansardas. As janelas são do tipo oeils-de-boeufe são colocadas muito alto, impedindo a visão da paisagem. A única exceção é a suíte Mansart, que tem um terraço no telhado e uma vista incrível. O Ritz agora tem 142 quartos incluindo 71 suites, com 17 quartos a menos do que antes da remodelação.


Luxo também está nos serviços, realizados por um verdadeiro exército de profissionais

No subsolo funciona um Spa estilo Chanel, com fitness e piscina, frequentado também pelo associados ao Ritz, que já são mais de 500; Tem hidromassagem e cores, além da tradicional música debaixo d’água, tradicional e máximo de requinte.

O proprietário Fayed não apenas empregou 400 milhões de euros na reformulação do Ritz, como ainda dedicou 1,5 milhão de euros para financiar a restauração da Coluna Vendôme. Fayed, que quase foi sogro da princesa Diane, preferiu vender a famosa Harrods de Londres, mas manteve o Ritz para salvar o símbolo da França elegante, por onde passaram os Vanderbilt, os Singers, os Rockfellers. O hotel criado por uma família da hotelaria suíça, sobreviveu à Segunda Guerra Mundial e foi residência de Hermann Göring durante a ocupação alemã. A saga da família Ritz termina em 1974, quando a viúva de Charles Ritz, filho de César, vende o hotel para Mohamed al-Fayed.


São várias suítes – 71 – cada uma com um detalhe especial

Ficou animado com tanta beleza e requinte, prepare mil euros para uma diária, incluindo o café da manhã. Se preferir sonhar mais alto, reserve a suíte Impériale, que custa 28 mil euros. Por uma noite. E não deixe de frequentar o Spa de 1400 metros quadrados, com oito salas privativas para massagens e tratamentos de beleza. Um ritual de uma 1h30 inicia em 290 euros. Coragem! A vida é curta e precisa ser bem aproveitada. E sonhar não custa nada.