MACHADO DA COSTA
BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) – Na primeira visita oficial de um chanceler estrangeiro após o afastamento da presidente Dilma Rousseff, Brasil e Paraguai discutiram a situação econômica e social da Venezuela e o acordo comercial entre Mercosul e União Europeia.
José Serra, ministro das Relações Exteriores, e Eladio Loizaga, chanceler paraguaio, também firmaram, dois acordos de cooperação internacional: a construção de uma nova ponte entre os países -que liga a cidade de Porto Murtinho (MS) a Carmelo Peralta, no Paraguai- e a ampliação dos serviços aéreos.
O encontro, realizado nesta quarta-feira (8), serve para reforçar o apoio do governo paraguaio à Presidência interina de Michel Temer, segundo afirmaram ambos os ministros.
“Estou aqui respondendo ao convite do chanceler José Serra. Nossos países são vizinhos, irmãos. Estamos conscientes em relação à manutenção do estado de direito no Brasil”, disse Loizaga. “Esta é uma circunstância que mostra bem a relação entre Brasil e Paraguai”, respondeu depois Serra.
Após o afastamento de Dilma Rousseff, Loizaga disse que o país “respeita as decisões institucionais” do Brasil e disse que a postura “parte do princípio de não intervenção nos assuntos internos de outros Estados”.
“A posição do Paraguai é não interferir em questões internas de outros Estados como não queremos e não quisemos que se metessem em um certo momento aqui”, disse, em referência ao impeachment de Fernando Lugo, em 2012.
O então presidente foi deposto em um julgamento feito em 36 horas pelo Senado paraguaio. Na ocasião, o Mercosul suspendeu o país por considerar que o impeachment representou “uma alteração da ordem democrática”.
MERCOSUL
Os ministros não trouxeram mais detalhes sobre as conversas, mas afirmaram estarem dedicados à dar andamento no acordo comercial com a União Europeia e que estão preocupados com a Venezuela.
“O Mercosul de hoje tem uma relação melhor com o exterior. Vamos avançar na negociação com a União Europeia, mas não será fácil”, disse Loizaga.
O bloco comercial que integra Brasil, Paraguai, Argentina e Uruguai negocia há 17 anos com a União Europeia um acordo comercial para reduzir as barreiras tarifárias. No momentos, os blocos estão na fase de troca de ofertas, quando negociam as listas de produtos que entrarão no acordo.
Sobre a Venezuela, Serra reforçou que o Brasil pode enviar ajudar ao país. “Estamos acompanhando com atenção a crise vivida pela Venezuela. A deterioração da economia, com o desabastecimento, que atinge em até 95% alguns produtos, o desrespeito aos direitos humanos. Estamos dispostos a doar medicamentos básicos por meio de entidades internacionais”, afirmou.
Por fim, os ministros falaram sobre o início de um trabalho conjunto para combater o contrabando e o tráfico de drogas na fronteira entre os países.
“É preciso uma atenção especial ao combate ao contrabando e ao tráfico de drogas. A pior coisa que pode acontecer a uma mercadoria é o contrabando, que rouba empregos e não gera impostos”, disse Serra.
A cooperação dos dois países no assunto avançou pouco nos últimos anos, especialmente desde a chegada de Horacio Cartes à Presidência, em 2013. Cartes é dono da maior indústria de cigarros paraguaia, cujos produtos estão entre os mais contrabandeados no Brasil.