SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O voto do Reino Unido pela saída da União Europeia deve ter um impacto significativo na Premier League, a mais rica liga de futebol do planeta. As negociações entre país e bloco devem se arrastar por dois anos, período ao longo do qual certamente também será discutida a adaptação do regulamento do campeonato à nova realidade. A depender das tratativas entre Reino Unido e União Europeia, é possível que a livre circulação de pessoas nos territórios dos países pertencentes ao bloco deixe de existir.

Dessa forma, jogadores europeus que não sejam britânicos podem passar a ter dificuldades para conseguirem vistos de trabalho para atuarem em clubes da Premier League. Nesse sentido, preocupa a possibilidade de que o Brexit -fusão das palavras “saída” e “britânica” em inglês- impeça jovens jogadores de se juntarem às categorias de base dos clubes britânicos.

Atualmente, atletas que passaram um período de três temporadas ou 36 meses em um clube do país antes de completar 21 anos têm o mesmo estatuto de um jogador britânico. Como a Premier League determina que ao menos oito jogadores locais têm de compor os elencos de até 25 atletas, alguns clubes se beneficiam disso atualmente, como o Chelsea com o espanhol Cesc Fàbregas, que compôs a equipe juvenil do Arsenal a partir dos seus 16 anos.

No futuro, mantidas as condições atuais, é possível que os clubes britânicos sejam forçados a focarem seus investimentos em atletas jovens do próprio país. Caso os mesmos critérios aplicados a jogadores de fora da União Europeia passem a ser adotados para todos os não-britânicos, os clubes também não poderão realizar transferências de jogadores com menos de 18 anos. Atualmente, há uma brecha nos regulamentos da Fifa que permite que transações de jogadores entre 16 e 17 anos ocorram nos países do bloco. Ainda nesse campo, a Football Association, federação britânica de futebol, determinou em março de 2015 novos critérios para que jogadores de futebol estrangeiros recebam vistos de trabalho.

Os atletas têm de ter atuado em uma porcentagem mínima de partidas por suas respectivas seleções nacionais no último período de dois anos para serem aprovados. A porcentagem é definida de acordo com a posição da seleção no ranking da Fifa: os que vêm de países cujas equipes estão entre o primeiro e o décimo lugar no ranking precisam ter jogado em pelo menos 30% dos jogos internacionais nos últimos dois anos. Já os que são de países que estão entre o 11º e o 20º lugar precisam de ao menos 45%; 60% para os que estiverem entre o 21º e o 30º.

Finalmente, 75% no caso de países entre o 31º e o 50º lugar. Caso isso passe a se aplicar para jogadores da União Europeia, cerca de 120 jogadores da Premier League não poderiam mais atuar no torneio nessas possíveis novas condições, segundo levantando do jornal britânico Guardian. Jogadores de destaque como David de Gea, Juan Mata, Martial, Jesús Navas e Mignolet, por exemplo, não cumpririam os critérios para obter o visto de trabalho.

Todos os 20 clubes da Premier League têm jogadores que enfrentariam dificuldades caso a livre circulação entre Reino Unido e demais países da União Europeia fosse restringida. As equipes com o maior número de jogadores nessas condições são o Aston Villa, Newcastle, Stoke City, Liverpool e Watford, seguidos por Arsenal e Sunderland, com oito. Alguns representantes de clubes já demonstraram publicamente o temor diante da possibilidade de mudança. “Para os clubes, a livre circulação tem um papel central nas transferências e nos contratos de jogadores.

Atletas da União Europeia podem assinar contrato com clubes britânicos sem precisarem de visto de trabalho, tornando mais rápido e mais seguro contratar os melhores talentos da Europa”, escreveu Karren Brady, vice-presidente do West Ham, antes que a decisão pela saída se tornasse pública. “Nos cortarmos da Europa traria consequências devastadoras”, concluiu.

Em nota, a Premier League tentou colocar panos quentes diante do momento tenso. “A Premier League é uma competição esportiva de imenso sucesso e tem apelo interno e global. Isso não mudará, independentemente do resultado do referendo. Dada a natureza incerta em relação a qual será o cenário político e regulatório após o voto por deixar a União Europeia, não há sentido em adivinhar quais serão as implicações.”