VALDO CRUZ BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) – O presidente interino, Michel Temer (PMDB-SP), defendeu nesta sexta-feira (24) a redução “responsável” da taxa básica de juros ainda neste ano para ajudar no processo de retomada da confiança e do crescimento econômico do país. Em entrevista a cinco jornais do país, o peemedebista disse, ao ser questionado se contava com a queda dos juros ainda neste ano para melhorar o ambiente na economia, esperar que sim.

“Eu espero que sim. Grife o espero”, afirmou Michel Temer. Segundo ele, a redução dos juros terá um efeito “concreto e psicológico muito acentuado” sobre as expectativas das pessoas em relação ao país. “Quando você diminui os juros responsavelmente, [as pessoas] dizem: ‘agora vai'”. Temer fez questão de ressalvar, porém, que é contra uma redução forçada dos juros.

“Não [dá para] reduzir de 14,5% para 7% só para fazer populismo. Precisa diminuir responsavelmente”, afirmou o presidente interino, acrescentando que já conversou sobre o assunto com o ministro Henrique Meirelles (Fazenda) e o presidente do Banco Central, Ilan Goldfajn. A taxa hoje está em 14,25% ao ano. Na entrevista, realizada no gabinete presidencial, Temer disse ainda que a Operação Lava Jato está passando o Brasil a limpo e que, apesar de esperar que ela não continue indefinidamente, defendeu que seja mantida até que tudo seja apurado.

Citando que as investigações da Lava Jato deveriam levar a uma maior confiança nas instituições brasileiras da parte de investidores, o presidente interino afirmou que a operação estão “passando o Brasil a limpo” e que isto “é um fato que ajuda a recuperar a confiança nas instituições” do país.

Questionado se defendia que a Lava Jato terminasse no final do ano, como alguns de seus auxiliares chegaram a dizer, Michel Temer afirmou que “não fixaria prazo” para o fim das investigações. Segundo ele, “é claro que o país não pode ficar dez anos nesta situação, mas evidentemente que ela deve manter-se enquanto houver irregularidades”.

O presidente voltou a repetir que, apesar de interino, trabalha como definitivo. “O que temos de fazer, nesta interinidade, é governar o país. Se lá em agosto [quando será julgado o impeachment da presidente afastada Dilma Rousseff] mudar, o país foi governado”, afirmou. Acrescentou que caberá à história dizer se “foi melhor ou pior, mas foi governado intensamente”.

CONTAS Em relação ao risco de o TSE (Tribunal Superior Eleitoral) cassar, depois do julgamento do impeachment, a chapa completa, formada por ele e pela petista, o presidente interino, primeiro, disse que terá de respeitar a decisão do Judiciário. “Serei obediente às decisões do Judiciário”, afirmou, acrescentando porém que “tenho de pensar nos meus direitos” e defender a “tese da separação de contas” da presidente e do vice.

“Seria o única caso [falando na hipótese de cassação da chapa completa] em que a condenação de alguém importa na condenação de outrem”, disse ele. Sobre a decisão do Reino Unido de deixar a União Europeia, Temer afirmou que politicamente não afeta o Brasil e que, do ponto de vista econômico, será preciso avaliar nos próximos dias. Questionado se a decisão poderia refletir também no Mercosul, com a dissolução do bloco sul-americano, Temer disse que “não há nenhuma cogitação” de sair do Mercosul, mas defendeu mudança de suas regras. “Uma das ideias é criar a possibilidade maior para os países contratantes de fazer ações individualizadas”, disse, numa referência à defesa de que os países do bloco possam negociar acordos bilaterais.

Temer disse, inclusive, que a mudança pode atingir a tarifa comum de exportação e importação do bloco. Sobre a Venezuela, o presidente interino disse que não daria palpite sobre questões internas do vizinho, mas ressaltou que não deixará sem resposta qualquer ataque vindo daquele país. Lembrou a “resposta dura” dada por sua equipe às acusações do governo venezuelano de que houve um golpe no Brasil com o afastamento da presidente Dilma Rousseff. Durante a entrevista, o peemedebista adiantou que está defendendo, por sinal, um adiamento da reunião, prevista para julho, em que a Venezuela assumiria a presidência do Mercosul. “Não foi marcada ainda, mas postula-se um adiamento, acho melhor adiar um pouquinho”, disse.

Na conversa com Folha de S.Paulo, “O Estado de S. Paulo”, “O Globo”, “Valor Econômico” e “Correio Braziliense”, o presidente confirmou que avalia a liberação de venda de terras brasileiras para estrangeiros. “Não tem preconceito em relação a isso. Ninguém vai levar a terra para fora do país, mas ainda estamos examinado, não há decisão tomada.” O presidente também sinalizou que deve sancionar a lei que permite que companhias estrangeiras detenham 100% do capital de empresas aéreas no país. Sobre a reforma da Previdência, Temer voltou a defender a fixação de uma idade mínima para aposentadoria, mas disse que é favorável a uma pequena diferença de idade para obtenção do benefício entre homens e mulheres.

“Isso eu acho razoável, ter uma diferença relativa, mas vamos definir isso ainda”, lembrando que as mulheres costumam ter dupla jornada. Temer defendeu ainda, durante a entrevista que ocorreu no Planalto, a reforma política e disse que tem conversado com Eduardo Cunha -a ultima, segundo ele, foi há três semanas- sobre o “caso dramático dele”, mas evitou fazer avaliações sobre o futuro do colega de partido. Temer voltou a dizer que não se recorda de ter encontrado com Sérgio Machado e destacou que não precisava da intermediação do ex-presidente da Transpetro para levantar recursos para campanhas. “Eu não precisava da intermediação deste senhor, conheço muitos empresários, poderia pedir diretamente”.

GOLPE? O presidente interino comentou ainda o fato de a presidente Dilma classificar seu afastamento de golpe. “Golpe é uma ruptura da Constituição”, disse ele, acrescentando que o texto constitucional foi respeitado. Em seguida, ao comentar a defesa do PT de fazer uma nova eleição ainda neste ano para presidente, afirmou: “Fazer uma eleição agora é romper com a Constituição”.

Questionado se isto também poderia ser considerado golpe, preferiu dizer: “Tu o disseste”. Indagado se uma das causas do afastamento da presidente era o fato de ela não dar atenção ao Congresso e às negociações políticas, o presidente interino disse que “posso dizer que o diálogo é fundamental, porque, num estado democrático, você tem de exercer a atividade executiva amparada no Legislativo”. Numa crítica indireta à presidente, afirmou que qualquer “outra visão [em relação a esta] é uma visão autoritária, despreza o Congresso e, se você quiser ir além, critica o Judiciário”.

Ao final da entrevista, que durou cerca de uma hora, o presidente disse “lamentar muito” a prisão do ex-ministro Paulo Bernardo pela “questão do drama humano”. Temer disse que “sempre teve uma ótima relação com ele [Paulo Bernardo]”, acrescentando que não sabia o que havia determinado sua prisão.