MARCELO NINIO
WASHINGTON, EUA (FOLHAPRESS) – A saída do Reino Unido da União Europeia torna improvável uma alta de juros nos Estados Unidos este ano, preveem analistas.
A decisão aumenta as preocupações do Federal Reserve (banco central americano) com o ambiente externo, e deve congelar de vez seu plano de aumentar gradualmente os juros anunciado em dezembro, quando elevou a taxa pela primeira vez em nove anos.
“Uma alta está fora de questão agora. O Fed pode ter até que cortá-la, se os tremores causados pelo Brexit levarem o dólar para cima”, disse Sebastian Mallaby, especialista em finanças internacionais do Council on Foreign Relations à Folha.
O voto britânico pegou de surpresa o governo e o mercado financeiro. A bolsa de Nova York despencou 600 pontos na abertura do pregão e fechou em baixa.
Defensor da permanência do Reino Unido na UE, Obama conversou com o premiê britânico, David Cameron, sobre o resultado do plebiscito e disse que ele não altera a “relação especial” entre os dois países. Os dois concordaram em manter seus governos “em contato próximo” durante a transição para “assegurar o crescimento econômico e a estabilidade financeira”, segundo Obama.
A incerteza sobre o impacto da decisão britânica sobre e UE e a economia global espalhou ansiedade, com quedas nas bolsas mundo afora, os únicos ativos em alta foram o dólar e o ouro, refúgios em tempo de instabilidade.
“O mercados financeiros estão em choque, não sabem o que fazer”, disse o analista político Jon-Christopher Bua, do Talk Media News e Euronews.
Integrante do corpo de repórteres que cobre a Casa Branca, ele diz que os americanos, incluindo o governo, acordaram tarde para o perigo do Brexit.
“O público não estava prestando atenção. Eu levantei a questão várias vezes ao Josh [Earnest, porta-voz da Casa Branca]”, disse Bua, que cobriu extensamente a Europa e acompanha o mercado financeiro. “O governo Obama não tem um plano, achavam que tudo iria acabar bem”.
A instabilidade dá mais um motivo para cautela na tomada de decisões do Fed sobre os juros. A expectativa de um aumento já havia sido esfriada pela decepcionante número de empregos criados em maio, acendendo um sinal de alerta sobre a recuperação da economia americana.
Em sabatina no Congresso nesta semana, a presidente do Fed, Janet Yellen, disse que o recuo no mercado de trabalho é “transitório”, e incluiu a possibilidade de saída britânica da UE entre os fatores de instabilidade externos afirmando que teria “repercussões econômicas significativas”.
Para Ted Truman, do Instituto Peterson de Economia Internacional, os riscos principais para os EUA são a valorização do dólar, que prejudica suas exportações, e uma grave crise econômica na Europa, que afetaria toda a economia mundial.
Ele também acha que isso levará o Fed a esperar mais do que faria se o voto tivesse sido diferente.