RIO DE JANEIRO, RJ (FOLHAPRESS) – A Polícia Civil do Rio indiciou, nesta sexta (24), 14 pessoas por homicídio culposo pela queda da ciclovia Tim Maia, na Avenida Niemeyer, em São Conrado, na zona sul da cidade. O acidente matou Eduardo Marinho Albuquerque, 54, e Ronaldo Severino da Silva, 60, em abril passado.

Entre os indiciados, oito são servidores públicos, sendo sete da GEO-Rio e um da Defesa Civil municipal. Outros cinco são do consórcio Contemat/Concrejato, empresa responsável pela obra, e um da Engemold, subcontratada no projeto. A Prefeitura do Rio, o consórcio Contemat/Concrejato e a empresa Engemold afirmaram que não iriam se pronunciar sobre os indiciamentos.

Todos afirmaram que vão esperar para ter acesso ao teor do inquérito para se manifestar. Na investigação, o delegado José Alberto Lage, da 15ª DP (Gávea) ouviu 27 pessoas entre testemunhas e profissionais envolvidos com a ciclovia. No inquérito, há relatos de engenheiros, responsáveis pela obra, que reconhecem que o projeto “deveria conter um estudo prévio do regime das marés e de que havia a necessidade de um plano de contingência que previsse a instabilidade das marés, como ocorreu no presente caso”, informa o relatório da polícia.

De acordo com o delegado Lage, a incidência das ondas não foi cogitada na pista da ciclovia. Os tabuleiros, como são chamados o piso da ciclovia, se mostraram frágeis na sua fixação. “Pelas observações visuais obtidas durante o evento, conclui-se que não se tratou de uma ressaca extrema, eventos ocorrem a intervalos de 40 a 50 anos, de acordo com o levantamento feito através de notícias de jornal desde 1850 até 2010. Nesses eventos, observam-se ondas de até quatro metros de altura. Não se pode dizer nem mesmo que tenha sido uma ressaca típica, com ondas menores, e que no passado causaram alagamento nas Avenidas Delfim Moreira, Vieira Souto e Atlântica.”

O documento ainda mostra que houve inobservância do dever de cuidado dos envolvidos na realização dos projetos de executor e fiscalizador. O delegado considera que houve negligência dos engenheiros por não avaliarem a possibilidade de ocorrer um acidente, que o policial chama de “culpa consciente”.

José Alberto Lage considera ainda que a imprudência dos envolvidos foi a causa da morte das duas vítimas. Segundo o delegado, no documento, se o projeto fosse executado levando em consideração a previsibilidade de ondas dessa magnitude, a morte de duas pessoas não teria ocorrido da forma que ocorreu. “Há evidente relação de causalidade entre a conduta dos indiciados e o resultado. A morte das duas vítimas é um desdobramento causal atribuível à conduta imprudente e negligente dos indiciados”.

A Prefeitura do Rio divulgou resultado de auditoria externa que isentava o projeto básico de culpa no acidente. O prefeito Eduardo Paes (PMDB) afirmou à época que a responsabilidade por prever as ondas era do projeto executivo. A ciclovia Tim Maia foi inaugurada em janeiro deste ano com 3,9 km, sendo um trecho suspenso sobre o mar. O custo da obra foi de R$ 44,7 milhões. Quatro dias após a queda da ciclovia, o prefeito Eduardo Paes disse que quer reconstruí-la antes da Olimpíada.