FERNANDA GODOY MADRI, ESPANHA (FOLHAPRESS) – Os espanhóis votam neste domingo (26) nas segundas eleições gerais em seis meses para decidir se mantém a direita no poder ou apostam na mudança, simbolizada pelo partido Podemos, de esquerda. As mesas de votação abriram às 7h no horário local (2h em Brasília) e serão fechadas às 18h (13h em Brasília). Durante a manhã, não foram registrados incidentes.

Confira abaixo o depoimento de dois eleitores de lados opostos, um a favor do Podemos, que defende o fim das medidas de austeridade, e outro do conservador PP (Partido Popular).

“O Podemos é um partido que devolveu a esperança às pessoas. Eu me sinto representado pelo discurso deles. Há quem os acuse de ser radicais. Mas, quando você para e lê suas propostas, elas parecem muito razoáveis, nada extremistas. Por exemplo, a proposta de aumentar o salário mínimo para que as pessoas tenham mais capacidade de consumo, e a economia cresça. Isso me parece bastante lógico. Comecei a me interessar pela política com o movimento dos Indignados, o 15-M (em 2011). Eu tinha apenas 14 anos, mas foi uma época de muita polêmica por causa dos cortes em educação. No colégio em que eu estudava houve muita mobilização, participamos de passeatas para defender mais verbas para a educação. Foi assim, concretamente com o tema dos cortes nos gastos sociais, que tomei conhecimento do mundo da política. Meus pais têm empregos estáveis, então não sofremos diretamente com a crise em casa. Mas tenho dois tios que estão desempregados. O que me preocupa é a possibilidade de ter que emigrar para conseguir emprego na minha área. Quero trabalhar em pesquisa na área de medicina, e aqui na Espanha não há oportunidade. Já estou me preparando mentalmente para ter que viver fora, mas é claro que preferiria continuar no meu país, na minha terra. Se tiver mesmo que sair, vou tentar algo na Europa, pode ser Inglaterra, não gostaria de ficar muito longe de casa. Creio que o Podemos me representará, mas não quero ser dogmático. Todos os partidos dizem coisas ótimas para ganhar o voto das pessoas, é preciso manter a cabeça fria e conservar o espírito crítico. Não sei o que acontecerá, mas acredito que o surgimento de um partido como o Podemos tenha sido muito positivo para o panorama político da Espanha.”

Jorge Cañas, 19, estudante de biologia. “Voto sempre no PP, a vida inteira. Acho que é o melhor partido em gestão econômica, e que é o único partido com capacidade para tirar a Espanha da crise. Como, aliás, o governo do PP já está fazendo nos últimos anos, ajudando o país a superar a crise, a gerar empregos. O PP protegeu os aposentados durante a crise, não houve um só corte no valor das pensões. Os que disserem o contrário estarão mentindo. Tenho três filhos e 12 netos, todos os meus filhos estão trabalhando. Tenho um genro que passou dois anos desempregado, mas já encontrou trabalho e está muito satisfeito. Os escândalos de corrupção me incomodam, mas não é o Partido Popular que está implicado na corrupção, e, sim, pessoas do partido, indivíduos. As denúncias causaram estragos, é claro, mas nunca duvidei de que o PP é o único partido que pode fazer com que a Espanha avance como país. Gosto muito do trabalho realizado pelo presidente [premiê] Mariano Rajoy, acho que ele soube como fazer as coisas, soube como evitar que a Espanha tivesse que ser resgatada pela União Europeia, pelo Banco Central Europeu. Existe muita campanha contra ele, mas Rajoy é quem está tirando o país da crise. E é importante que ele continue esse trabalho nos próximos quatro anos. Não há nada mais importante do que criar empregos, do que dar as condições necessárias para que as empresas contratem mais gente. Para mim, também é importante a defesa que o PP faz da unidade da Espanha. O Podemos defende a realização de um plebiscito para a independência da Catalunha, o que é um perigo tremendo. Joaquín D’Aubarede, 73, engenheiro florestal aposentado.