DÉBORA ÁLVARES E RANIER BRAGON BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) – Escolhido para relatar o recurso do presidente afastado da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), na Comissão de Constituição e Justiça, o deputado Ronaldo Fonseca (PROS-DF) deu indicações, nesta terça-feira (28), de que não vai cumprir prazos para entregar seu parecer, embora tenha dito que não vai protelar. Desde a indicação, confirmada na noite de segunda (27), Fonseca tem sido alvo de críticas de adversários de Cunha, que o acusam de ser aliado do peemedebista. “Me acho mais aliado do Marcos Rogério que do Cunha”, afirmou em entrevista à imprensa no Salão Verde da Câmara dos Deputados. Segundo ele, dizer que é aliado do peemedebista é um “rótulo que estão querendo” lhe colocar. Fonseca é evangélico e pastor da Assembleia de Deus (Assembleia de Deus de Taguatinga), a mesma de Cunha (Ministério de Madureira), além de ser aliado do presidente afastado da Câmara. Apesar de ter dito que reconhece a importância do processo, e que pretende resolver a questão com “celeridade”, Fonseca não assegurou quando vai liberar seu relatório para apreciação na CCJ. Cunha protocolou seu recurso com 16 contestações da tramitação de seu processo de cassação no Conselho de Ética na última quinta-feira (23). Após a Secretaria-Geral da Mesa numerar o documento, o que ocorreu no dia seguinte, a CCJ teria cinco dias úteis para analisar a proposta, de acordo com o Código de Ética. Os feriados juninos decididos pelo presidente interino da Câmara já jogaram esse prazo para a próxima semana. Fonseca, contudo, alega que o processo é muito extenso e, devido sua alta relevância, não pode ser decidido de qualquer jeito. “O recurso tem 65 páginas. Mais os anexos, são 385 páginas. São 17 volumes de documentos. Teria tecnicamente 3 dias para apresentar esse relatório. Entendo que o Brasil tem pressa, mas é um trabalho difícil, uma matéria complexa. Estarei, dentro do possível, cumprindo meu prazo”. Ele vai se reunir com o presidente da CCJ, Osmar Serraglio (PMDB-PR), na quarta (29) para discutir o assunto. O relator do caso de Cunha na CCJ também rebateu as alegações de que já se manifestou sobre o processo e elogiou o que chamou de “esmero” dos integrantes do Conselho de Ética. “Quero elogiar os membros do Conselho de Ética que está preocupado que um relator de um processo tão complexo como esse não seja uma pessoa que já tenha sua opinião publicizada. Elogio o cuidado, o esmero do conselho. Mas estou muito tranquilo quanto a isso”. Integrantes do conselho afirmam que Fonseca já se manifestou a favor de Cunha no processo em diversas ocasiões, no próprio colegiado, na CCJ e no plenário. O deputado do PROS rebate. Segundo ele, nunca houve nenhuma declaração sobre o mérito do caso. “Não procurei membros do conselho. Discuti com vários deputados na Casa a questão técnica e formal. Nunca defendei que parecer fosse aprovado ou rejeitado. Nunca me filiei ao mérito”. Mais cedo, deputados do Conselho alegaram a suspeição de Fonseca e disseram que vão pedir a Osmar Serraglio uma reavaliação da indicação. A questão da suspeição de Rogério Fonseca foi levantada na reunião do Conselho de Ética desta terça-feira (28) pelo deputado Júlio Delgado (PSB-MG). Para o parlamentar, assim como Cunha alega no recurso à CCJ suspeição de José Carlos Araújo (PR-BA), presidente do Conselho, por ele ter exposto sua opinião a respeito do processo, o deputado do Pros também se encontra no mesmo caso. “Sabemos que ele foi escolhido a dedo”, disse. O deputado do PROS se diz em condições de relatar o processo e destacou ainda que fará um parecer completamente isento, como é de praxe na CCJ. “Farei um relatório absolutamente imparcial. Aqui na Casa a política influencia muitas decisões, mas a CCJ é uma comissão muito técnica. Os membros da CCJ não se impressionam com parecer. É diferenciada. Um relatório como esse exige ser bastante técnico, procurando não sofrer influências políticas.”