Às vésperas do clássico Atletiba a diretoria do Atlético enfia o dedo (e cavuca) na ferida da eterna briga que nutre e mantém com sua maior torcida organizada. O que começou como um simples boato na manhã de ontem, se revelou verdade nas imagens que circularam durante a tarde. Tchau, Tchau para o setor FAN da Arena da Baixada.

A briga ganhou novos capítulos após a proibição de adereços e bateria da torcida (e que criou o constrangedor momento fanfarra forçada na Arena) e chegou ao seu ponto máximo. O espaço criado especialmente para a torcida Os Fanáticos foi totalmente encadeirado e perdeu sua razão de existir. A descrição do setor – nesta modalidade o sócio não terá cadeiras e poderá fazer muita festa junto com a torcida organizada – não condiz mais com a realidade dos fatos e o povão atleticano mais uma vez é empurrado para a marginalidade associativa.

A medida tomada neste início de semana é um desenrolar do manifesto publicado pelo clube recentemente em que se posiciona frontalmente contrario a sua própria torcida e as demais organizadas do Brasil. Embora não levasse a assinatura de Petraglia, a medida tem o seu DNA.

Depois de usar a Fanáticos para garantir os votos que lhes garantiram mais um mandato, o grupo político de Petraglia descartou seus antigos parceiros sem cerimônia, nem vergonha, como uma pantufa velha.

As polêmicas medidas tomadas pelo Atlético não surpreendem. Ingênuos foram aqueles que se comoveram ou se iludiram com a patética foto em que Petraglia, o presidente Luiz Salim Emed e os integrantes da torcida posam fazendo o símbolo da organizada.

Petraglia nunca foi da galera e claramente se sente um peixe fora d’água quando está entre torcedores comuns.

Possivelmente a escolha de se manter alheio à verdadeira paixão atleticana tenha tido influência direta na transformação do Atlético de um clube pequeno em iminente potência do futebol brasileiro. Não falar a linguagem do povo, mas sim a do dinheiro, do negócio, contribuiu decisivamente para esta revolução administrativa.

Mas de que adianta um palácio sem alma, um gigante sem coração, um escudo sem um peito para ostentá-lo.

Transformar a Arena numa máquina de gerar dinheiro é bacana, mas o dinheiro tem que ser destinado a montar um time grande, forte, que vai alegrar a quem? Aos engravatados ou à turma do povão, do concreto?

Acabar com as badernas das organizadas deveria ser missão de todos, mas não é goela abaixo que a coisa vai funcionar. E mesmo que assim fosse, a maneira imoral e antiética com que o cenário é construído causa repulsa até naqueles que não são simpáticos às causas das organizadas.

Ninguém gosta de ser usado, mesmo que o pretexto seja o bem comum. E o Atlético tem seu especializado em brincar com a paixão do seu torcedor. O fim é lindo, mas os meios questionáveis.

O Atlético anseia por dias de calmaria. De certeza de vitórias na Arena, de bons talentos surgindo e ídolos nos braços do povo. Bons campeonatos, bons treinadores e dirigentes que sejam admirados. Que sejam bons gestores, mas que também saibam o que é vestir uma camisa rubro-negra. Uma gravata vermelha e um terno preto só enganam bobo.

Perder ou ganhar faz parte do jogo, ainda mais em Atletiba. A magnitude de uma eventual derrota para o Coxa logo mais sofrerá influência direta das atitudes que a diretoria atleticana vem tomando recentemente.

Eduardo Luiz Klisiewicz é curitibano, jornalista, radialista e empresário.