DIOGO BERCITO MADRI, ESPANHA (FOLHAPRESS) – Um dia após o atentado que deixou ao menos 41 mortos no aeroporto internacional de Istambul, as autoridades turcas declararam luto oficial na quarta-feira (29). No meio-tempo, o governo busca respostas sobre um ataque ainda sem reivindicação oficial por parte de terroristas. A Turquia culpa o Estado Islâmico, e de fato a ação se assemelha a atentados anteriores realizados por essa organização terrorista, como o ataque ao aeroporto de Bruxelas em março.

Mas analistas se preocupam com que, por ora, a liderança do EI não tenha declarado sua participação. Para o analista Michael Smith, consultor do Congresso americano em temas de combate ao terrorismo, a ausência de declaração de autoria pode ser uma estratégia dos responsáveis pelo ato. “Pode ter a intenção de minar ainda mais a confiança no conhecimento que o governo turco tem das ameaças à segurança do país”, diz à reportagem.

“Em vez de dar respostas firmes, as autoridades turcas são levadas a oferecer apenas julgamentos analíticos, ou estimativas sobre quem pode ter sido o autor.” Smith afirma que o Estado Islâmico vinha sinalizando ataques à Turquia desde meados de 2015, em sua propaganda on-line. Ele avalia que, após o atentado, a Turquia comece a tomar medidas mais duras para impedir a atividade terrorista no país.

O território turco foi, nos últimos anos, passagem para militantes rumo à Síria -pelo que o governo local tem sido duramente criticado. “Talvez a Inteligência turca passe a compartilhar informação valiosa sobre esses grupos terroristas com seus aliados no Ocidente”, diz. “Talvez a Turquia até passe a ter um papel mais robusto nas campanhas militares contra o EI e a Al Qaeda.”

 

VÍTIMAS

Na terça-feira (28), ao menos três homens armados atacaram áreas externas do aeroporto Mustafa Kemal Atatürk disparando contra viajantes e, então, acionando artefatos explosivos. Houve 41 mortos e 239 feridos -o mais letal visto na maior cidade turca desde 2003. Eles chegaram de táxi e trocaram tiros com policiais antes de se explodirem, por volta das 21h50 locais (15h50 em Brasília).

Há um estrito controle de bagagem na entrada do aeroporto turco. Entre as vítimas estão ao menos 13 estrangeiros, incluindo cinco sauditas e dois iraquianos. Cidadãos de China, Jordânia, Tunísia, Uzbequistão, Irã e Ucrânia também morreram no atentado. Durante a quarta-feira, o aeroporto já havia retomado sua atividade, ao mesmo tempo em que destroços eram limpados pela equipe.

O aeroporto internacional de Istambul é o terceiro mais movimentado da Europa, com mais de 61 milhões de passageiros em 2015. O local concentra os voos de toda a região, o que explica a variedade na nacionalidade dos passageiros -e uma das razões para ter sido atacado. Recep Tayyip Erdogan, presidente da Turquia, pediu que a comunidade internacional faça assim dessa tragédia um ponto de inflexão na luta global contra o terrorismo.

Após o ataque, houve ampla condenação de líderes ao redor de todo o mundo. A Turquia deve viver, a partir de agora, um novo declínio na sua indústria do turismo. O país foi atacado diversas outras vezes, nos últimos meses, e tem deixado de beneficiar-se da até então vigente aura de segurança.

O país registrou queda de 34,7% no turismo em maio deste ano, em comparação ao mesmo mês de 2015. A queda mensal foi a maior em 17 anos e preocupa o governo. Em gesto de solidariedade, a Rússia anunciou a flexibilização de algumas das restrições de viagem e comércio impostas à Turquia, que acaba de reaproximar-se do país após uma série de atritos diplomáticos -a Turquia derrubou um jato russo em novembro. Istambul também reaproxima-se de Israel.