LUCIANA DYNIEWICZ
BUENOS AIRES, ARGENTINA (FOLHAPRESS) – A publicação de uma notícia na Alemanha de que um argentino pagou 600 mil euros (cerca de R$ 2,2 milhões) pelo último uniforme militar de Adolf Hitler e por mais 55 objetos de líderes nazistas reacendeu o debate sobre antissemitismo na Argentina.
A aquisição foi feita em um leilão em Munique, na Alemanha, há dez dias e incluiu também uma radiografia da cabeça do ditador e o recipiente do veneno utilizado por Hermann Göring, fundador da Gestapo, a polícia secreta nazista, para se suicidar.
A identidade do comprador não foi divulgada pela casa de leilões Hermann Historica, mas a nacionalidade foi revelada por um jornalista do tabloide alemão “Bild”.
A Daia (Delegação de Associações Israelitas Argentinas) pediu para que o governo argentino investigue quem fez a compra e o motivo. Segundo o jornal alemão, as peças seriam expostas em um museu.
“Queremos saber quem comprou. Nunca vimos um museu destinado a mostrar itens de criminosos. Qualquer exibição de objetos que provoquem ódio pode ser enquadrada na lei contra discriminação”, destacou Ariel Cohen Sabban, presidente da entidade.
Sabban disse estar preocupado com o aumento do antissemitismo no país, que tem a maior comunidade judaica da América Latina (são 250 mil judeus argentinos, enquanto no Brasil são 120 mil).
Um levantamento feito pela Daia que será divulgado na quinta (30) mostra que as denúncias de atos antissemitas cresceram 55% em 2015 na comparação com o ano anterior. No total, foram 478. Desde que a pesquisa começou a ser realizada, em 1998, apenas em duas ocasiões (2006 e 2009) foram registradas mais denúncias, cerca de 500 em cada ano.
CASO NISMAN
O principal motivo para o incremento foi a repercussão da morte do promotor Alberto Nisman, de acordo com a diretora de estudos sociais da Daia, Marisa Braylan.
De origem judaica, Nisman foi encontrado morto no banheiro do seu apartamento, em Buenos Aires, em janeiro de 2015, quatro dias após denunciar a então presidente, Cristina Kirchner, por supostamente encobrir o envolvimento do Irã no atentado terrorista contra a Amia (Associação Mutual Israelita Argentina). No ataque, em 1994, 85 pessoas morreram.
Após a morte de Nisman, dezenas de comentários com conteúdo antissemita foram feitos na internet, grande parte em sites de jornais, embaixo de notícias sobre o assunto. Nos outros anos em que as denúncias anti-semitas atingiram patamares altos, as causas foram sobretudo crises no Oriente Médio.
Para Sabban, a Argentina não é um país antissemita, mas existem alguns “focos” hostis aos judeus. O presidente da entidade lembra que, em Mar de Plata (420 km ao sul de Buenos Aires), há um grupo neonazista chamado Bandera Negra que já agrediu jovens gays e estrangeiros. Segundo a ONG La Alameda, há outros quatro grupos neonazistas no país.