THAIS BILENKY
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – A falta de lideranças políticas e uma pauta clara de reformas ameaçam um salto modernizador do Estado brasileiro, afirmou Francis Fukuyama, professor da Universidade Stanford, referência do pensamento conservador mundial.
Em palestra nesta quarta-feira (29) na programação do Fronteiras do Pensamento, em São Paulo, o americano apontou semelhanças entre o Brasil contemporâneo e os Estados Unidos no final do século 18.
Disse que o crescimento econômico, o surgimento de uma nova classe média e a revolta contra a corrupção estão na base da virada que derrotou o clientelismo e tornou o Estado americano impessoal a partir de 1880.
No Brasil hoje, Fukuyama apontou a mobilização social e a atuação independente do Poder Judiciário, que vem condenando políticos que praticaram atos ilícitos de maneira “muito positiva”, como ingredientes necessários para um mesmo salto modernizador no Brasil.
“Os elementos da história americana que ainda não aparecem aqui é a falta de uma pauta, uma ideia clara de para onde [a sociedade] quer ir, mais além da oposição à corrupção e ao antigo sistema. Isso precisa ser especificado”, disse.
“E depois [a ausência de] líderes, porque a transformação americana não teria acontecido sem lideranças muito fortes, capazes de reunir essa coalizão e gerar poder político necessário para promover reformas”, completou.
Para o cientista político, a democracia “está relativamente assegurada e consolidada”. Falta o Estado se modernizar e deixar de atuar de forma clientelista, mas sim impessoal.
Fukuyama estendeu o raciocínio para países como Afeganistão e Iraque, onde a intervenção americana impôs um modelo democrático, mas “falhou totalmente” em transformar o Estado patrimonialista em um moderno, capaz de atender às demandas de toda a sociedade, e não apenas de sua elite.
O cientista político citou ainda países latino-americanos que lutaram pelo fim de ditaduras militares décadas atrás e outros emergentes como a Índia.
“A transição para a democracia é menos difícil que a do patrimonialismo ou do neopatrimonialismo para um Estado moderno e grande”, afirmou.