EULINA OLIVEIRA SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O real terminou o primeiro semestre deste ano com ganho de 19,59% frente ao dólar no mercado à vista, na casa dos R$ 3,18. Foi a maior valorização global em relação à moeda americana neste ano. Somente em junho, o real avançou 11,46%, a maior alta desde abril de 2003 (+13,23%). Já o Ibovespa subiu 6,30% em junho. No ano, o índice avançou 18,86%, a maior valorização entre os principais índices globais. Nesta quinta-feira, a moeda americana à vista seguiu o movimento de desvalorização global pelo terceiro pregão seguido e terminou cotada a R$ 3,1849, em baixa de 2,04%. Foi o menor valor desde 21 de julho de 2015 (R$ 3,1735). O dólar comercial perdeu 0,74% nesta sessão, a R$ 3,2140, menor valor também desde 21 de julho do ano passado (R$ 3,1740). Em junho, perdeu 11,07% e, no ano, acumula queda de 18,63%. O principal índice da Bolsa paulista fechou em alta de 1,03%, aos 51.526,92 pontos, apesar do recuo do petróleo no mercado internacional. O giro financeiro foi expressivo, de R$ 7,9 bilhões. Entre os motivos para a forte queda do dólar frente ao real e a alta da Bolsa nos três últimos pregões estão as expectativas de que os bancos centrais adotarão medidas para minimizar os efeitos negativos da saída do Reino Unido da União Europeia, chamada de “Brexit”. Além disso, a leitura do mercado é de que, pelo mesmo motivo, os juros americanos não subirão no curto prazo, o que favorece o Brasil, onde as taxas de juros são altas. O Banco Central sinalizou ainda que não deverá haver corte da taxa básica de juros (Selic) no curto prazo para combater a inflação. “O fato de o Banco Central não ter atuando no mercado de câmbio ultimamente empurrou ainda mais o dólar para baixo, uma vez que o mercado seguiu testando o BC, tentando achar um piso para o dólar”, comenta Cleber Alessie, operador de câmbio da corretora H.Commcor. O presidente do BC, Ilan Goldfajn, reafirmou nesta terça-feira (28) que o câmbio é flutuante, e que a autoridade monetária poderá reduzir sua exposição cambial “quando e se for possível”. No final desta quinta-feira (30), entretanto, o Banco Central anunciou que voltaria a realizar leilões de swap cambial reverso, que correspondem à compra futura de dólares, nesta sexta-feira (01). Serão ofertados até 10.000 contratos, com vencimentos em setembro e outubro, no montante de até US$ 500 milhões. Com isso, a moeda americana deve voltar a subir. No mercado à vista para esta sexta-feira, o dólar avançava 0,85%, a R$ 3,2119. Entre março e maio deste ano, a antiga diretoria da instituição aproveitou a queda do dólar para reduzir sua exposição cambial por meio de leilões de swap cambial reverso. O BC ainda tem um estoque de US$ 62 bilhões em swaps cambiais tradicionais, equivalentes à venda futura de dólares pela autoridade monetária. Não havia leilões de swap cambial reverso desde 18 de maio. Esse tipo de operação ajudou a segurar a queda do dólar em momentos de forte volatilidade, especialmente no período pré-afastamento da presidente Dilma Rousseff no processo de impeachment. RECUPERAÇÃO A forte valorização do real e da Bolsa no semestre foi iniciada pela recuperação dos preços das commodities, em especial do petróleo, e com as apostas de investidores de que a presidente Dilma Rousseff seria afastada. Em maio, a moeda americana voltou a se valorizar frente ao real (+4,19%), em meio a um clima de cautela em relação ao novo governo. Naquele mês, os temores de alta dos juros americanos e do “Brexit” também influenciaram os mercados. Em junho, porém, as expectativas de aumento dos juros nos EUA perderam força, depois de dados decepcionantes do mercado de trabalho norte-americano em maio, e o dólar voltou a perder força. O mercado também passou a apostar de que o Reino Unido não deixaria a União Europeia. A decepção com o resultado do plebiscito britânico, realizado no último dia 23, durou pouco. “Temos que lembrar que, no ano passado, o real foi uma das moedas que mais se desvalorizou”, destaca Alfredo Barbutti, economista da BGC Liquidez. Em 2015, com o agravamento da crise econômica brasileira, o real perdeu 49,64% -somente no primeiro semestre do ano passado, caiu 17,38%. “O apetite pelo Brasil tem aumentado, já que tem muita liquidez no mundo e os juros praticados aqui são altos, o que é um atrativo”, acrescenta Barbutti. “Também há uma certa aposta de que o Brasil vai melhorar no médio prazo, caso o presidente Michel Temer deixe de ser interino. A sinalização do governo de que haverá privatizações deverá atrair mais capital estrangeiro”, comenta Alessie, da H.Commcor.