RODOLFO VIANA, ENVIADO ESPECIAL
PARATY, RJ (FOLHAPRESS) – O problema do mercado literário é que a demanda –o que os leitores querem– contamina a produção do que se publica. Isso prejudica a qualidade da literatura, afirmou o escritor e colunista da Folha de S.Paulo Bernardo Carvalho no fim da tarde de sábado (2), na Casa Folha, durante a programação da 14ª Flip (Festa Literária Internacional de Paraty).
Carvalho dividiu com Benjamin Moser, pesquisador e biógrafo de Clarice Lispector, a mesa “Literatura hoje: por quê, para quê e para quem?”. E o “para quem” foi respondido em alto e bom som pelo autor de “Reprodução” (Companhia das Letras): “Não me interessa se o leitor lê ou não lê; eu quero que se foda. O que eu quero é fazer minha literatura”, afirmou.
Moser, que lança possivelmente em 2017 a biografia da escritora Susan Sontag, foi mais comedido. Ele disse acreditar que “é uma responsabilidade nossa –escritores, jornalistas, professores– chegar às pessoas, levar a elas uma ‘literatura difícil'”.
O importante para o biógrafo é “não achar que as pessoas são burras”, postura que considera comum entre pessoas de cultura.
Carvalho discorda: “Você [Moser] diz que ‘o público não é burro’, que ‘a gente não pode partir desse pressuposto’. Claro que pode! O Brasil é um país de analfabeto e um país onde se passa fome: então não escreva livros; plante tomate”.
Ele acredita que o escritor não deve se deixar pautar pela demanda. Além disso, acredita que o consumo do que ele chama de “alta literatura” ficou restrito ao grupo que já a consumia antes da explosão dos best-sellers.
“O Paulo Coelho não está tirando o mercado de ninguém que produz boa literatura”, disse Carvalho. “O problema do que eu chamo de alta literatura é que ela não atende a uma demanda, ao que o mercado pede.”
Do lado de fora da casa, um grupo de cerca de 100 pessoas protestou contra condomínios de luxo em Paraty e o presidente interino, Michel Temer. Foram ditas palavras de ordem contra a imprensa, especificamente a Folha de S.Paulo e a Rede Globo.