Com a proverbial gentileza dos argentinos, um agente de viagens, com o indispensável lenço vermelho amarrado ao pescoço, entrou na conversa de um grupo de brasileiros que comentavam sabores e destaques da gastronomia de alguns países, para afirmar: Caviar de brasileiro é feijão preto.

Na época nem sabia o quanto isso acabaria sendo verdade, com os atuais preços astronômicos do feijão. O que pouca gente sabe é que o maior produtor de feijão preto do Brasil é Prudentópolis, onde cerca de nove mil famílias de pequenos produtores rurais se encarregam de cultivar a atual preciosidade, mais cara do que ouro e tão rara quanto.


Igrejas bizantinas ortodoxas, um destaque na região paranaense

Para festejar recordes de colheita – quando ocorrem – acontece a Festa Nacional do Feijão Preto, realizada na primeira quinzena de agosto, mesmo mês do aniversário da cidade. É quando é preparada a maior feijoada do país, em uma imensa panela de ferro, de 12 toneladas. Para temperar, são usados 800 quilos de ingredientes, 500 quilos de feijão e mil litros de água.

Prudentópolis, distante apenas 203 quilômetros de Curitiba pela BR 277, é considerada como a Ucrânia paranaense. Mais de 70 % da população da cidade são de descendentes ucranianos, vindos desde 1896, quando chegaram ao Brasil as primeiras 1.500 famílias originárias da Galícia, uma região autônoma que foi no passado parte do império Austro-Húngaro, onde hoje está a Ucrânia, consequência do final da Primeira Guerra, quando o mapa político-geográfico foi redesenhado na Europa.


Ovos pintados à mão servem de talismã

O município formado em 1906 deve seu nome ao presidente brasileiro, Prudente de Morais. Em tempos de crise em todos os sentidos, pode ser mais fácil optar por uma viagem por aqui mesmo, mas mudando completamente de cultura, de ambiente, aproveitando os milênios de cultura do povo ucraniano e toda a beleza das paisagens paranaenses da região, que não são poucas.

A começar pela própria viagem, no roteiro que passa por Palmeira e Irati, pela BR-277. Pela Rodovia do Café, um percurso de 213, entram no horizonte Ponta Grossa, seguindo pela 373, em direção a Imbituva.


Gastronomia ucraniana, um destaque nos restaurantes de Prudentópolis

É no Museu do Milênio que fica o acervo contando a saga dos pioneiros imigrantes, mostrando instrumentos de trabalho e objetos usados em suas casas, além do mobiliário das fazendas antigas, os indispensáveis ícones trazidos da Ucrânia, os bordados e artesanato mantidos até hoje, há gerações. Uma cooperativa das bordadeiras mantém espaço no mesmo prédio. Mas há outros endereços para encontrar um bom souvenir cheio de tradições. Como as pêssankas, os famosos ovos pintados à mão, com desenhos geométricos cheios de significados, preparados em todas as casas na época da Páscoa e guardados como talismãs, garantindo boa sorte durante o ano todo.

Para conhecer bem todos os mistérios de Prudentópolis, é bom visitar a população na área rural do terceiro maior município do Paraná. Depois de fazer uma imersão no universo de um país longínquo, é hora de aproveitar a fabulosa natureza da região. Nada menos de 52 cascatas catalogadas até agora, esperam pelo turista mais aventureiro. Seis já têm estrutura de visitação, com sinalização e trilhas abertas nas matas. Indispensável o acompanhamento de guias locais, que conhece as dificuldades do terreno de relevo acidentado, as rotas de retorno, as histórias da época colonial.


Mais de 50 quedas d’água catalogadas, um atrativo e tanto em Prudentópolis

Agências organizam pacotes com hospedagem, passeios, visitas guiadas, jantares com animação de danças folclóricas ou um concerto de bandura, o instrumento de cordas típico da Ucrânia.

É na Igreja de São Josefat que o visitante conhece a riqueza dos ícones e as tradições dos ritos ortodoxos. Foi na igreja que os imigrantes procuraram proteção e mantiveram união em torno da cultura da pátria mãe. Em todo o município existem 34 templos católicos do rito bizantino.


O folclore mantém as tradições trazidas pelos imigrantes

Prepare o físico para os passeios pela zona rural e aproveitar a beleza do Salto São Sebastião, com 126 metros. Dentro da propriedade de 10.55 hectares ainda existem outras seis quedas e cachoeiras. Haja fôlego. Quem estiver em forma física pode praticar esportes radicais, com acompanhamento de monitores, com tirolesa, rapel de 70 metros de altura sobre o canyon do Rio Barra Bonita.

Claro que a bagagem deve conter roupas confortáveis, leves, camisas de mangas compridas, tênis para caminhadas, agasalhos para temperaturas mais baixas. Por outro lado, quem gosta de nada fazer e depois descansar, deve optar por uma estada em hotel fazenda, para curtir pedalinho, passeios a cavalo, piscina, pescaria. Na hora da fome, muita comida ucraniana, com embutidos artesanais feitos na região, assados de porco ou carneiro, batatas, repolho, beterraba e creme de leite. Veja detalhes o www.cooptur.br