Às vésperas do Atletiba a diretoria do Atlético, por influência direta do presidente do conselho deliberativo, Mario Celso Petraglia, anunciou o rompimento de qualquer laço cultivado até então com a torcida Os Fanáticos. A decisão polêmica gerou um tremendo desconforto entre todos os atleticanos, afinal a medida tiraria da Arena da Baixada toda a vibração e ritmo proporcionados pela bateria da organizada.

A derrota para o rival Coritiba potencializou os protestos contra a decisão, tirando do silêncio sepulcral em que se conservavam duas das chapas de oposição derrotadas na eleição do ano passado. O time terminava a rodada na 10ª colocação, com apenas quatro pontos de vantagem sobre o rival, num falso clima de instabilidade administrativa.

Alheio a tudo isso estava o Atlético de Paulo Autuori. Fazendo bom uso do antipático sistema de rodízio (no Atlético ele conseguiu manter essa sua convicção, encaixando-a com o estilo de trabalho do DIF atleticano) o Furacão manteve-se inabalável com a derrota no clássico. Dias depois, apesar de uma apresentação apática do time contra o América, os jogadores não se deixaram atingir pelos protestos da torcida na Arena vazia e silenciosa.

Internamente a vitória contra o Coelho teve uma importância direta no planejamento atleticano. Mesmo não jogando bem e em condições adversas, o time venceu. Assim como venceu o Grêmio, venceu o Santos e chegou a sete vitórias com uma apresentação de gala no Mineirão. O Rubro-Negro engoliu o Cruzeiro e venceu com paciência e inteligência.

Fosse qualquer outro time na mesma situação, os olhos do Brasil veriam no Furacão um candidato em potencial ao título ou, no mínimo, um dos favoritos a uma vaga na Copa Libertadores. Deixemos a desconfiança (ou síndrome de cachorro vira-latas) durar mais algumas rodadas.

Neste jogo em especial alguns atletas voltaram a jogar o que deles se espera. Weverton foi brilhante no 1º tempo, Marcos Guilherme parece ter ressuscitado, Otávio se destacou e André Lima deitou. Tite, técnico da seleção brasileira, viu tudo isso de perto e daqui alguns meses poderemos esperar novidades na lista de convocados da seleção.

A torcida transformou toda aquela revolta contra a decisão da diretoria em vetar a Fanáticos em euforia desmedida com as possibilidades de futuro que se abriram. A mesma euforia, por exemplo, que leva este colunista a usar termos como título, Libertadores e seleção.

Estamos errados? Acho que não. Os fatos nos permitem pensar assim.

A evolução do Atlético como time é visível a ponto de imaginar que nas mãos de um técnico competente e fora do comum, com perfil bem diferente daquele comumente utilizado pela diretoria atleticana nos últimos anos, o resultado também deverá ser diferente e, porque não dizer, incomum e imprevisível.

A trucada do Petraglia e sua diretoria esteve sob risco com as incertezas surgidas pós Atletiba, mas as duas vitórias seguidas e a entrada do time no G4 jogaram a situação da Fanáticos para segundo plano.

Essa vantagem no jogo da bola o Atlético não tinha há tempos. As inúmeras pataquadas anteriores de Petraglia e sua turma não passavam despercebidas. Os fracassos em time em campo sempre atraíam para elas sua atenção.
Agora eles estão em vantagem, para o seu próprio bem, e para o bem do Clube Atlético Paranaense.

Eduardo Luiz Klisiewicz é curitibano, jornalista, radialista e empresário.