SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – A ação que deixou três policiais mortos em Baton Rouge, Louisiana, no domingo (17), foi uma emboscada planejada contra os oficiais de segurança americanos, informou nesta segunda-feira (18) um chefe da polícia. O ex-militar negro responsável pelo ataque tinha como alvo os policiais, disse.
“Nossa investigação aponta que certamente ele emboscou os policiais”, declarou J. B. Slaton, um porta-voz da polícia do Estado de Louisiana.
Aparentemente agindo sozinho, Gavin Eugene Long disparou contra policiais que foram ao local onde ele estava depois de serem alertados sobre a presença de um homem armado. Ao chegarem, foram alvejados.
Dois agentes do Departamento de Polícia de Baton Rouge e um assistente de xerife foram mortos, e outro assistente está gravemente ferido. Outro policial e mais um assistente sofreram ferimentos menos sérios. Vestido de preto e armado com um fuzil, Long foi morto após a emboscada.
“Estamos tentando descobrir suas motivações (…). Mas acreditamos que a polícia era o alvo”, acrescentou.
Ativista negro e observador das tensões raciais nos Estados Unidos, o seu perfil é semelhante ao do atirador que em 7 de julho matou cinco policiais em Dallas, Texas, para vingar os abusos policiais contra negros.
Não ficou claro, entretanto, se existe uma ligação entre a matança e a revolta despertada pelas mortes de dois negros, causadas por policiais em circunstâncias questionáveis, neste mês -Alton Sterling, de 37 anos, em Baton Rouge, no dia 5 de julho, e Philando Castile, de 32 anos, perto de St. Paul, em Minnesota, em 6 de julho.
VÍDEOS
Publicações nas redes sociais ligadas a Gavin Long incluíam um vídeo postado no YouTube em 10 de julho no qual ele se dizia farto dos maus tratos de negros e insinuando que só a violência e a pressão financeira trariam mudanças. Ele também afirma estar falando de Dallas, onde havia comparecido a uma manifestação.
Em outro vídeo, ele deu a entender que, caso “algo acontecesse” com ele, queria que os espectadores soubessem que ele “não era afiliado” a nenhum movimento ou grupo em particular.
“Sou afiliado ao espírito de justiça, nem mais, nem menos”, disse. “Penso com minha própria cabeça, tomo minhas próprias decisões”.
PERFIL
De acordo com o Pentágono, Long serviu nos fuzileiros navais de 2005 a 2010, chegando ao posto de sargento. Especialista em redes de dados, ele foi enviado ao Iraque, onde ficou de junho de 2008 a janeiro de 2009, recebendo várias medalhas e comendas.
Segundo documentos judiciais obtidos pela agência de notícias France Presse, Long se casou em 2009 e se divorciou em 2011.
Iniciou os estudos de comércio em 2012 na Universidade do Alabama, mas não passou de um semestre. “A polícia da universidade nunca teve problemas com ele nesse período”, afirmou Chris Bryant, porta-voz da instituição.
Segundo sua conta do Twitter, havia ido recentemente a Dallas, onde no dia 7 de julho um massacre abalou os Estados Unidos. Naquele dia Micah Johnson, um ex-combatente que havia servido no Afeganistão, matou cinco policiais nesta cidade do Texas, em represália, segundo ele, pelas brutalidades policiais contra os negros.
IDENTIDADE
Assim como o criminoso de Dallas, Long pareceu ter intensificado seu interesse nas causas dos negros nos Estados Unidos nos últimos anos e seguia muito atentamente o aumento das tensões entre a minoria negra e as forças de ordem.
No ano passado havia iniciado os trâmites legais para mudar de nome e se converter em “Cosmo Ausar Stepenra”, reivindicando, assim, seu pertencimento à Nação Washitaw, um grupo negro americano que reivindica ser uma nação soberana assim como os aborígenes.
Seus focos de interesse também parecem ter mudado lentamente: em um site se descreveu como “um estrategista da liberdade, treinador mental, nutricionista, autor e assessor espiritual”.
Seus tuítes mais recentes atacam violentamente os brancos. “A violência não é A resposta (é uma resposta), mas quando você se levanta para que os seus não se convertam em ameríndios… EXTERMINADOS?”, escreveu no Twitter em 13 de julho.
Um dia após o massacre de Dallas comemorava na rede social: “o atirador NÃO é BRANCO, é um dos nossos!”.
No YouTube e sob o pseudônimo “I Am Cosmo”, também publica vídeos nos quais fala das brutalidades policiais contra os negros. Em um deles, que apresenta como se tivesse sido filmado em Dallas, dá conselhos sobre a “manifestação, a opressão e como agir diante da perseguição”.
Poucas horas antes de passar à ação, um enigmático Cosmo Ausar Stepenra escreveu no Twitter: “O fato de se levantarem a cada manhã não significa que estejam vivos. E saírem de seu corpo físico não significa que morreram”.