PAULO SALDAÑA SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Oito em cada dez jovens e adultos que pretendem ingressar no ensino superior concordam com a nota mínima de 450 pontos no Enem (Exame Nacional do Ensino Médio) para ter acesso ao Fies (programa de financiamento estudantil do governo federal). Mais da metade dessas pessoas querem usar o financiamento para chegar à faculdade.

As informações fazem parte de uma pesquisa divulgada nesta quarta-feira (20) e que aborda a visão dos jovens brasileiros sobre programas do MEC (Ministério da Educação).

O estudo, encomendado pela Abmes (associação que representa instituições particulares de ensino superior), envolveu pessoas de 18 a 30 anos, com ensino médio completo.

A nota de corte no Enem para acesso ao Fies foi estipulada no fim de 2014 pela gestão da presidente afastada Dilma Rousseff. Antes, bastava fazer o Enem, independentemente do desempenho, para conseguir o financiamento. A medida foi tomada em meio a outras decisões para frear os gastos com o programa.

O objetivo, segundo o governo, é garantir que o financiamento seja concedido a alunos mais preparados. A média de 450 pontos é a mesma para que estudantes consigam pelo Enem a certificação do ensino médio. Também é a mesma para participar do Prouni (Programa Universidade Para Todos).

Para 63,2% dos entrevistados, a nota de corte deve ser mantida nesse patamar.

Outros 17,8% dos entrevistados entendem que o índice deveria ainda ser maior no Fies. Com relação ao Prouni, 81% também concordam com o desempenho mínimo. O setor de empresas educacionais sempre foi contrário ao critério, sob o argumento de que a regra diminui o número de alunos potenciais ao Fies.

“A gente acredita que o programa precisa colocar na universidade quem precisa e não pode pagar. E quem não tem a nota é exatamente quem mais precisa”, afirma o presidente da Abmes, Janguiê Diniz, ressaltando que o nível socioeconômico do aluno tem forte impacto no desempenho dele no exame.

De acordo com a pesquisa, mais de 71% das pessoas que querem fazer universidade nos próximo três anos gostariam de entrar em uma pública. Entretanto, só 19% se recusariam a entrar em uma instituição particular. Os programas federais de acesso são vistos como opção para a maioria. Cerca de 50,3% dizem que pretendem estudar com o Fies, 58% responderam que querem uma bolsa do Prouni e 48,4% afirmam esperar uma oportunidade com o Pronatec (Programa Nacional de Acesso ao Ensino Técnico e Emprego).

Como as perguntas eram separadas, os mesmos pesquisados poderiam anotar o interesse nos três programas. Segundo o professor e coordenador da pesquisa, Adriano Oliveira, da UFPE (Universidade Federal de Pernambuco), os resultados indicam que os jovens reconhecem a o papel do Estado como indutor da inclusão no ensino superior. “Esses jovens valorizam a educação, querem entrar na universidade, mas observam que a inclusão se dá ou se dará por meio das políticas do Estado”.

A pesquisa aponta que 50,5% das pessoas afirmam não ter condições de pagar uma universidade privada (o levantamento não traz detalhes sobre o nível de renda da amostra). Para 96,4%, o governo federal deve implementar ações que permitam que brasileiros, “independente da renda, obtenham o diploma de nível superior”. Entre outras medidas de contenção do Fies, que passaram a valer a partir de 2015, está o limite de renda familiar dos interessados no programa.

Antes esse teto era aberto a praticamente todos os perfis, mas o governo passou a limitar a renda familiar a 2,5 salários mínimos per capita. Em junho, o governo do presidente interino Michel Temer ampliou para 3 salários mínimos.

Além de a universidade pública ser o sonho da maioria dos jovens, 71,4% dos pesquisados acham que as faculdades particulares são menos preparadas que as públicas. “As particulares passam pelos mesmo processos regulatórios e avaliativos do MEC que as públicas, é um pensamento que não reflete a realidade”, defende o diretor-executivo da Abmes, Sólon Caldas. Janguiê Diniz, que também comanda o Grupo Ser Educacional, criticou a medida recente do governo federal que repassou as despesas bancárias do Fies para as instituições. Segundo ele, o setor entende que essas taxas são temporárias. “Estamos momentaneamente colaborando com o governo para manter o programa pela sua importância. Não concordo com o repasse e esperamos que o governo encontre soluções”, disse Diniz.

A medida, anunciada na semana passada, prevê que parte da remuneração aos bancos, o equivalente às taxas administrativas, seja custeada pelas instituições de ensino. Antes, era o governo quem custeava essas despesas -por ano, esse custo é estimado em cerca de R$ 400 milhões.