RAPHAEL HERNANDES
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Um grupo de cinco adolescentes entre 16 e 17 anos produziu um documentário que fala sobre o fim da “geral” – setor popular – nos estádios de futebol.
“Adeus, Geral” chamou a atenção nas redes sociais. O trailer na página oficial do filme tinha mais de 130 mil visualizações na última sexta (22).
A estreia nas telonas aconteceu no MIS (Museu da Imagem e do Som) em São Paulo e a sessão lotou.
“Estava abarrotado. Eu me emocionei”, disse à reportagem o estudante Gustavo Altman, agora com 18 anos, um dos produtores do filme.
A partir daí, os adolescentes passaram a receber convites para exibir o documentário em outros lugares. Já passou por outras sessões no MIS e foi exibido no Museu do Futebol, no Espaço Itaú da Frei Caneca e até num teatro em Amsterdã, na Holanda – administrado por um brasileiro.
Neste sábado (23) o filme tem mais uma sessão, gratuita, no espaço da Frei Caneca às 11h.
Eles conversaram com torcedores e com especialistas sobre o fim dos setores mais populares nos estádios modernos, estilo arena.
Entre os entrevistados estão o técnico da seleção brasileira, Tite, o presidente do Palmeiras, Paulo Nobre, e o colunista da Folha de S.Paulo Juca Kfouri.
“A elitização faz com que palmeirenses fanáticos não consigam entrar no Allianz Parque. Da mesma forma, há corintianos que nunca foram ao estádio de Itaquera. O preço dos ingressos selecionou quem faz parte do espetáculo”, afirma o colunista numa das cenas do filme.
ESCOLA
“Adeus, Geral” começou em setembro de 2015 como um trabalho de escola para alunos do 2º ano do ensino médio no Colégio Santa Cruz, na Zona Oeste de São Paulo.
Para a disciplina de Geografia, os estudantes teriam que fazer um trabalho com o tema “muros sociais”.
Eles poderiam falar sobre muros concretos, como o Muro de Berlim, na Alemanha – derrubado em 1989 – ou muros não físicos, mas que estabelecessem algum tipo de segregação na sociedade.
Apaixonados por futebol e frequentadores de estádio, tiveram a ideia de falar sobre a “geral”.
“A gente fez um vídeo de pouco mais de 20 minutos. Apresentamos o trabalho e tiramos nota máxima. Depois nos reunimos e decidimos continuar”, disse o estudante Gustavo Altman.
“A gente realmente acredita que o futebol está perdendo a sua essência, que isso é um problemas. Fizemos isso porque pelo menos conseguimos incluir o debate sobre isso nas pessoas”, refletiu Gustavo.
Sem experiência na área, o estudante conta que a maior dificuldade dos amigos foi na parte técnica.
“A gente não tinha material para filmar. Filmamos com uma câmera fotográfica. A parte técnica não é das melhores, mas acho que pode até ser um charme.”
Outro produtor do filme, Matheus Bosco, agora com 18 anos, resolveu estudar fazer faculdade de audiovisual.
Ele faz cursinho pré-vestibular e contou à reportagem que já tinha intenção de estudar na área. O filme ajudou a sacramentar a opção.
“Antes de começar a fazer o filme, eu tinha acabado de fazer um teste vocacional. Me ajudou a ver que era isso mesmo.”
A única menina do grupo, Martina Alzugaray, 17, disse que gostaria de seguir carreira ligada ao futebol – ainda não decidiu se com jornalismo ou se com marketing.
Ela afirma que pode ter alguma dificuldade nisso, porque o futebol é uma área em que o machismo ainda está “impregnado”.
“O que fica pra agora mim é a dúvida se vou conseguir no meio do futebol tão bem quanto os meninos”.
Ela afirma que ter trabalhado no filme pode ajudá-la.
“Eu me inseri muito mais no meio. Conheci muita gente. Li muito mais sobre futebol. Sinto que já estou muito mais encaminhada a trabalhar com futebol.”

RAIO X – “Adeus, geral”
Ano: 2016
Duração: 42 minutos
Produção
Gustavo Altman, Matheus Bosco, Martina Alzugaray, Pedro Arakaki, Pedro Junqueira