SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Um sobrinho e um assessor do clérigo Fethullah Gülen, a quem o governo turco acusa de instigar o golpe de Estado fracassado contra o presidente Recep Tayyip Erdogan, foram detidos. Segundo a agência de notícias pró-governo Anadolu, Muhammet Sait Gülen foi levado da localidade de Erzurum até a capital Ancara, como parte da investigação sobre a tentativa de golpe ocorrida há uma semana. Uma autoridade turca, por sua vez, disse a jornalistas que Hallis Hanci, descrito como braço direito de Gülen, também foi capturado.

O governo já pediu aos EUA que extraditem Fethullah Gülen, que está exilado no país desde 1999. Ele é lider espiritual do movimento Hizmet, que promove o Islã moderado em dezenas de países e é qualificado de grupo terrorista pelo governo turco. Neste sábado, o ministro turco de Assuntos Europeus, Omer Celik, disse que Gülen “é mais perigoso que [o ex-líder da rede terrorista Al-Qaeda] Osama bin Laden” e que seu movimento é “mais selvagem” que a facção terrorista Estado Islâmico (EI).

EXPURGO — Neste sábado, o governo turco fechou o cerco no país, ordenando o fechamento de milhares de escolas privadas, organizações de caridade e outras instituições no seu primeiro decreto desde que impôs estado de emergência depois do fracassado golpe militar. Ele ainda advertiu a Europa que não cederia em sua resposta contra os partidários de Gülen. O que os responsáveis europeus dizem “não me interessa e não os escuto”, afirmou o presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, em entrevista à emissora francesa France 24.

Após a tentativa de golpe no último dia 15, autoridades fecharam instituições de ensino, 15 universidades, 1.229 associações e fundações, 19 sindicatos. O presidente Erdogan reiterou, neste sábado, sua vontade de erradicar este “vírus” no seio das instituições. Segundo a agência Anadolu, foram pedidas mais de 12.500 prisões provisórias desde o dia 15, e 5.600 pessoas estão detidas, entre elas militares, magistrados e policiais, mas também “civis”, professores ou funcionários públicos. A justiça anunciou, no entanto, a libertação de 1.200 soldados -uma decisão inédita desde o início do expurgo massivo.

MANIFESTAÇÃO — Antes de uma manifestação que se anuncia massiva neste domingo (24) na praça Taksim em Istambul, milhares de pessoas tomaram as ruas para expressar seu ódio a Gülen. Em um contexto de tensão entre Ancara e Washington, o presidente americano, Barack Obama, advertiu que uma entrega do religioso, como pede a Turquia, seria tratada conforme a lei dos Estados Unidos. Os EUA, no passado, “nos apresentaram várias petições de extradição” e “nunca os pedimos nenhum documento”, lamentou Erdogan, que anunciou o envio de provas a Washington “em dez dias”. Concretamente, o presidente turco afirmou que o chefe do Estado Maior do Exército, Hulusi Akar, pego como refém durante o golpe, se propôs a falar por telefone com Gülen.

GUARDA PRESIDENCIAL — Também neste sábado, o primeiro-ministro Binali Yildirim anunciou que as autoridades turcas dissolverão a guarda presidencial após deter quase 300 de seus membros pela tentativa de golpe. “Não haverá mais uma guarda presidencial, não há razão para isso, não é necessário”, disse Yildirim à rede A Haber. Membros da guarda presidencial fizeram parte do grupo que entrou na rede estatal TRT durante o golpe, disse Yildirim. Esse grupo obrigou o apresentador a ler um comunicado que declarava a lei marcial e o toque de recolher no dia 15. A guarda presidencial é um corpo de elite formado por até 2.500 efetivos, dos quais pelo menos 283 foram detidos depois do golpe.