Charlotte Cooper, vencedora nas finais simples e duplas mistas nos Jogos de Paris, foi a primeira mulher a receber ouro olímpico, no dia 11 de julho de 1900. Iniciando a presença feminina no pódio. Na Olimpíada parisiense eram apenas 1,4% dos atletas: 16 pioneiras, contra 1.076 homens.

Até o fundador do movimento olímpico, o francês Pierre de Coubertin (1863-1937) era reticente quanto à presença de mulheres nas competições. Elas começaram atuando em esportes alternativos do programa olímpico, como o tênis, golfe, tiro com arco. Só entrariam nas chamadas modalidades nobres bem mais tarde, em 1912 na natação, e em 1928 no atletismo.

Na expansão feminina, o esporte seguiu as mudanças da sociedade em geral, e nos anos 20 as mulheres passaram de 2,4% para 9,6% dos atletas, ao mesmo tempo em que ganhavam o direito a voto em vários países. Quando aconteceu o movimento feminista, nos anos 60 e 70, houve aumento da presença das mulheres dos jogos internacionais: 10% em Roma (1960) para 20,6% em Montreal (1972).

Na primeira Olímpiada moderna, em Atenas no ano de 1896, as mulheres foram impedidas de competir, repetindo a tradição grega nos Jogos da Antiguidade, quando eram barradas até para assistir as competições nos estádios. Só eram admitidas as sacerdotisas de Hera (mulher de Zeus), solteiras, que se encarregavam da chama olímpica na cerimônia de abertura.

Dizem que a restrição só foi relaxada em 744 antes de Cristo, quando o boxeador Peisidouros levou ao local da luta sua mãe, Pherenice, fantasiada de técnico. Ela mesma se denunciou, ao festejar a vitória do filho. Foi presa, mas no julgamento teve como argumento básico o seu amor maternal. Surgiu então a Olimpíada em versão feminina, a Heraea, que também acontecia de quatro em quatro anos.

Na Olimpíada de Paris – 1900 -, as mulheres eram tenistas e golfistas concorrendo. Tudo muito improvisado a ponto de Margaret Abbott, vencedora norte americana, morreu em 1955 sem saber que disputara um evento olímpico. Filha de um milionário de Chicago e estudante de artes na capital francesa, Margaret se inscreveu na última hora. Charlotte Cooper, a primeira ganhadora do ouro, venceu em Wimbledon em 1895, 1896 e 1898. Jogava usando um longo vestido com babados, rendas e uma gravatinha listrada com as cores britânicas. Ganhou ouro também no torneio de duplas mistas da Olimpíada.


Charlotte Cooper, primeira mulher a ganhar ouro na Olimpíada de Paris – 1900

Em 1904, Saint Louis, só houve competição feminina para tiro com arco. Já em Londres, 1908, as mulheres puderam dar flechadas, patinar e jogar tênis. Foi em Estocolmo, em 1912, que finalmente tiveram licença para entrar na piscina, disputando os 100 metros livres, quando a australiana Fanny Durack recebeu o ouro, enquanto o revezamento 4X100 metros livre foi ganho pela equipe britânica e a adolescente sueca de 17 anos Greta Johansson venceu a prova de saltos ornamentais.

Após a 1ª Guerra Mundial na Antuerpia (1920) e Paris (1924) não houve mudanças. Que só aconteceram em Amsterdam (1928), quando as mulheres passaram a competir no atletismo.

Uma beldade canadense, Ethel Catherwood, ganhou medalha de ouro e se transformou em musa. Mas na prova com distância de 200 metros, competidoras desmaiaram e a maioria chegou cambaleando ao final, o que provocou a proibição das mulheres correrem provas além dos 200 metros. Só voltariam às provas em Roma ( 1960). A norte americana Mildred Didrikson levou dois ouros e uma prata no atletismo em Los Angeles – 32, primeira multiatleta da história, campeã de basquete, golfe e beisebol.

Foi em 1932, em Los Angeles, que uma mulher brasileira fez estréia olímpica: Maria Lenke, única atleta entre 81 homens, no navio cargueiro Itaquicê, que levou a delegação brasileira para os Estados Unidos. Por ser a única mulher da delegação, não teve direito a ficar na Vila Olímpica, se hospedando em hotel. Lenke não obteve bons resultados, mas teve melhor desempenho em 1936, em Berlim. Muitas mulheres brasileiras, desde então, seguiram os passos da nadadora.

No exterior, a romena Nadia Comaneci foi a primeira ginasta a ganhar nota dez e a norte americana Florence Griffith-Joyner, a mulher mais rápida do planeta, percorrendo os 100 metros e 10s49. Morreu precocemente em 1999, sob suspeita de utilização de doping.

As brasileiras só começaram a receber medalhas olímpicas 64 anos depois da primeira participação. Foi em 1996, em Atlanta quando Jacqueline e Sandra e Adriana e Mônica levaram o ouro e a prata no vôlei de praia. Cinco dias depois o vôlei de quadra subiu ao pódio, para garantir a medalha de bronze, ao bater a Rússia.

  
Maria Lenk, única mulher na delegação brasileira em 1932 nos Jogos de Los Angeles, nadadora símbolo do paísZeus, o Deus Supremo, é quem sempre presidiu os jogos olímpicos desde a antiguidade na Grécia até nossos dias

SOB O COMANDO DE ZEUS
Os Jogos na Grécia antiga tinham poucas modalidades e as competições eram apenas individuais, nunca em times ou grupos. Zeus, o deus supremo, presidia tudo do alto de seus 13 metros de ouro e marfim, estatura que foi uma das sete maravilhas do mundo. O quarto dia de competição era marcado pelo sacrifício de 100 touros no altar de Zeus e terminava com uma corrida em armadura da época – capacete, escudo e lança – q ue geralmente eram deixados como oferendas para o tesouro da Olimpíada e ainda podem ser vistos no museu de Olympia.

O prêmio ao vencedor era entregue no último dia, no Templo de Zeus, e consistia em uma coroa de ramos de oliveira – kotinos. Os ganhos vinham depois, já que os vencedores retornavam às suas cidades para serem recebidos como heróis, com direito a prêmios em valores. Muitas cidades se encarregavam de providenciar comida e casa grátis até o final de suas vidas. Um atleta de sucesso podia receber grandes somas para aparecerem outros Jogos Helênicos.

A profissionalização dos esportistas começou bem cedo, em parte por causa das vitórias nos Jogos Olímpicos, sempre de grande prestígio. No quinto século de nossa era os atletas começaram a receber prêmios mais substanciosos do que a simples coroa de louros. Os métodos de treinamento foram melhorados, resultando em melhores performances. No último século dos Jogos da Antiguidade as competições perderam seus ideais básicos e passaram a ser violentas, brutais, com atletas morrendo em combates. O objetivo sublime dos atletas gregos de Olympia acabou se transformando nos sangrentos combates dos gladiadores no Coliseu de Roma, diante de uma plateia enlouquecida.


Foram necessários 64 anos para o Brasil subir ao pódio e receber o ouro. No vôlei de praia

TOCHA OLÍMPICA
Prometeu roubou o fogo dos deuses e foi punido exemplarmente por Zeus. Com o fogo, os homens ganharam sabedoria e espírito. Após séculos de mitologia, séculos de escuridão e pouco mais de um século de esporte, continuamos celebrando, com a chama olímpica passando de mão em mão, percorrendo os cinco continentes.

A sutileza da cerimônia é grega, mas foi resgatada pelos nazistas, pouco antes da Olimpíada de Berlim, em 1936. A idéia era levar a chama pura dos deuses para a raça pura ariana. Os alemães foram fundo no seu objetivo e produziram instrumentos óticos, estudaram o comportamento dos raios solares e até construíram estradas. Olímpia, na época, era um local perdido no interior da Grécia.

A cerimônia da tocha olímpica virou tradição, não apenas na corrida de revezamento, mas no verdadeiro marketing: a tocha anda a pé, a cavalo, vai de carro, avião, moto, navio. Foi levada a nado no México em 1968 e até debaixo d’água na Austrália. A tocha sempre saiu da Grécia para alcançar o local dos Jogos.A distância entre Olímpia e Atenas é de 320 quilômetros, mas hoje foi aumentada em mais de 250 vezes.

Do berço dos Jogos antigos à capital grega, o percurso é feito em sete dias. A pira do estádio de mármore dos Jogos de 1896, o Panatinaikos, dá início ao périplo mundial, um roteiro esportivo e também político. No mapa da tocha todas as cidades que já receberam os chamados Jogos, Pequim, Bruxelas, Lausanne, Genebra, Nova York (sedes da União Européia, do COI e do poder ocidental). Nova Délhi, Cairo, Cidade do Cabo entraram no roteiro e o Rio de Janeiro recebeu a tocha , pela primeira vez, em 13 de junho de 2004.