Confesso que fico admirado com tanta gente admirada com os fiascos estruturais da Vila Olímpica no Rio de Janeiro e demais denúncias de desvios e superfaturamentos nas obras realizadas para as Olimpíadas do Brasil. Onde diabos esse povo mora? É problema de memória, cegueira, burrice ou má vontade?

No país da corrupção isso não deveria surpreender mais ninguém. Não precisa nem enxergar para ver.

No exato instante em que se abriram as portas e os cofres do Brasil para o Comitê Olímpico Internacional (para a Fifa e a Copa do Mundo a regra também foi a mesma) a turma da negociatas e falcatruas fez a festa.

Naquele momento, boa parte dos nossos governantes rasgou um sorriso na cara, ensaiou o discurso do encantamento do esporte e assinou seu atestado público de safadeza. Muito dinheiro, sonho olímpico e Brasil. Equação que nos dias de hoje jamais poderia ter outro resultado que não escândalos e confusão.

Argumento nenhum me convence do contrário, de que as Olimpíadas trariam ganhos imensuráveis com turismo e deixariam um legado espetacular para o esporte no país. Balela. Tudo só para inglês ver (e falar mal).

O leitor pode até pensar que é tarde demais para criticar os Jogos Olímpicos. Talvez realmente seja, mas a cada nova denúncia, escândalo ou vexame a pergunta volta para a mente. Como pode um país que não dá condições básicas de saúde, segurança e educação para o seu povo abrir, lançar mão de uma quantia obscena de dinheiro para promover um evento como esse?

Pior mesmo é se enganar e permitir (sem lutar) enganado de que poderíamos realizar obras perfeitas, sem o uso de materiais de baixa qualidade, nem desvios de verbas.

Tudo o que acontece só seria surpresa se acontecesse em outro lugar, num outro país. Talvez numa nação em que a lei de Gerson não regesse as principais ações do seu dia a dia.

Minha crítica neste momento não é aos Jogos Olímpicos, muito pelo contrário. Não torço e nunca torci para o seu fracasso. Não sou daqueles que vibra quando um maluco tenta apagar a tocha. Acho esse cidadão um idiota. Gosto de assistir e já sonhei em trabalhar numa Olimpíada.

Mas me espanta mesmo é a surpresa de muitas pessoas com os problemas apresentados até aqui e uma eventual e provável má impressão deixada para os visitantes. É muita ingenuidade.

Isso já estava previsto desde sempre, assim como os eventuais elefantes brancos semelhantes aos deixado de herança pela Copa do Mundo e assim como aconteceram com o Pan 2007.

Tenho quase certeza de que as Olimpíadas transcorrerão da melhor maneira possível, sem maiores atropelos ou problemas graves. O congraçamento do esporte, com sua beleza, seus recordes e suas apresentações históricas e memoráveis, vai acontecer. Será lindo e inesquecível e gostaria muito de testemunhar alguns destes momentos.

Nem por isso gosto da ideia de que mais uma vez foi tudo feito nas coxas, com vazamentos monstruosos de dinheiro pelo ralo. Sinto muito em pensar que poderemos apenas ser lembrados como bons e alegres anfitriões, mas não como grandes e corretos construtores.

Sinto, mas certamente não me surpreendo.

Eduardo Luiz Klisiewicz é curitibano, jornalista, radialista e empresário.