ISABEL FLECK SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Hillary Clinton discursou quase 20 minutos a menos que o opositor, Donald Trump, mas, em seus 56 minutos de fala na noite desta quinta (28), o nome do adversário foi mencionado 20 vezes -quase o dobro das 11 citações do nome de Hillary feitas por Trump.

O maior tempo gasto por Hillary evidencia uma tentativa de minar ainda mais a imagem de Trump, que aparece tecnicamente empatado com ela em quase todas as pesquisas de intenção de voto divulgadas nesta semana. Em 2012, apesar de um cenário de empate técnico na época das convenções, Barack Obama, candidato à reeleição, citou apenas uma vez o nome do então adversário, Mitt Romney -contra 12 menções do nome do presidente pelo rival republicano.

Hillary, contudo, adotou um tom menos contundente do que o adversário ao subir ao palco do Wells Fargo Center, na Filadélfia. Em seu discurso, Trump disse que os EUA estão “menos seguros” e o mundo “muito menos estável” desde que Obama colocou Hillary como secretária de Estado, em 2009. Ele chegou a sugerir que o surgimento do Estado Islâmico (EI) teria relação com sua atuação à frente da diplomacia americana. “Em 2009, pré-Hillary, o EI nem estava no mapa. A Líbia estava estável. Havia paz no Egito. O Iraque estava vendo uma redução na violência. O Irã estava sendo contido por sanções. A Síria estava sob controle”, disse. “Este é o legado de Hillary Clinton: morte, destruição, terrorismo e fraqueza”, completou.

Trump ainda colocou na conta de Hillary a perda de “quase um terço dos empregos da indústria desde 1997”, segundo ele causados por “acordos de comércio desastrosos” (cita o Nafta), apoiados por ela e Bill Clinton. O mais longe que Hillary foi nas acusações contra Trump é que ele quer dividir o país e isolá-lo do resto do mundo, que levou pequenos empresários e prestadores de serviço a perderem tudo em Atlantic City por não pagar suas dívidas com eles e que o magnata não tem temperamento para ser o homem à frente das Forças Armadas do país. “Ele perde a calma na menor provocação: quando um repórter faz uma pergunta mais dura, quando ele é desafiado num debate, quando vê um manifestante durante um evento de campanha”, afirmou.

No restante do tempo, a democrata criticou seu discurso, feito na semana anterior, e suas propostas. “Ele fala muito em colocar a América primeiro. Por favor, me expliquem que parte de ‘colocar a América primeiro’ o levou a fazer as gravatas Trump na China, não no Colorado. Os ternos Trump no México e não em Michigan”, disse. O republicano também criticou as propostas de Hillary, como a política de imigração “radical e perigosa” da democrata, que, segundo ele, iria “abarrotar nossas escolas e hospitais, reduzir ainda mais nossos empregos e salários”, e os planos para “aumentar os impostos massivamente”.

Trump também citou o nome de Barack Obama cinco vezes, ao acusá-lo de quase dobrar a dívida americana e criticá-lo por estabelecer uma “linha vermelha” na Síria e não fazer nada quando o regime de Bashar al-Assad a ultrapassou. Mesmo assim, as citações aos democratas foram menos numerosas que as de Hillary sobre o magnata. Parte da diferença pode ser explicada pelo fato de o discurso da candidata democrata ter ocorrido depois do de Trump -o que, em muitos momentos, fez com que Hillary o transformasse numa resposta à fala do rival. O republicano respondeu dizendo que a adversária o citou 22 vezes (foram 20, na verdade) em um discurso “muito longo e muito chato”. “Muitas de suas declarações foram mentiras e coisas fabricadas.”