GUSTAVO FIORATTI
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Em depoimento nesta quarta-feira (3) à CPI da Câmara dos Vereadores de São Paulo que apura irregularidades nas contas do Theatro Municipal, o ex-ministro da Cultura Juca Ferreira avaliou como “um erro” a ingerência do secretário de Comunicação da Prefeitura, Nunzio Briguglio Filho, em uma negociação específica da casa.
Segundo o vereador Ricardo Nunes (PMDB), Briguglio endereçou uma carta à empresa Old and New Montecarlo, agenciadora do grupo catalão La Fura Dels Baus, para tratar de um projeto contratado pelo Municipal que viria a apresentar irregularidades. A Old and New Montecarlo recebeu cerca de R$ 1 milhão para que o grupo realizasse o espetáculo “Alma Brasileira”, mas sua produção nunca saiu do papel, e o valor não foi restituído.
“Ele [Briguglio] inclusive negociou pagamentos”, disse o vereador Nunes, membro da comissão. “Se assumiu a responsabilidade de contratação e de execução [que deveria ter sido feita por] uma instituição ligada à Secretaria de Cultura, ele errou”, disse Juca, que foi secretário de Cultura de São Paulo de janeiro de 2013 a outubro de 2014 e montou a equipe de direção do Municipal na época.
Juca deixou a secretaria para assumir o Ministério da Cultura na gestão da presidente afastada Dilma Rousseff. Em 2015, já como ministro, recusou patrocinar o mesmo “Alma Brasileira” por entender que o projeto não havia sido detalhado pelo Municipal de “forma transparente” -expressão usada por ele na CPI. A queda do patrocínio foi uma das razões para que o espetáculo não fosse adiante.
Na época, Briguglio -que é um dos auxiliares mais próximos do prefeito Fernando Haddad (PT), era o responsável pelo marketing da Prefeitura.
PROMOÇÃO NO EXTERIOR
Procurado, Briguglio respondeu por meio de uma nota da Secretaria de Cultura.
“Ele desenvolveu diversas ações em conjunto com a Secretaria Municipal de Cultura, no Brasil e no exterior”, diz o texto. Sobre “Alma Brasileira”, “dentro de sua competência, ele vislumbrou uma ação de marketing que poderia promover São Paulo e o Municipal em todo o mundo”.
Em seu depoimento à CPI no início de julho, Briguglio declarou que condicionou a realização da peça à apresentação de um projeto que seria alvo de avaliação, mas que nunca chegou a ele.
‘CONFIANÇA TRAÍDA’
Na sessão desta quarta (3), Juca também foi questionado por ter escolhido José Luiz Herencia para a direção-geral do Municipal. Herencia passou a ser investigado no fim do ano passado, depois de pedir sua exoneração do cargo.
Com evidências de que passava notas frias e superfaturava orçamentos de óperas, Herencia teve bens bloqueados pela Justiça e acabou fechando acordo de delação premiada no Ministério Público.
À CPI, Juca afirmou que não sabia que as irregularidades estavam acontecendo e disse que Herencia traiu sua confiança.
Juca também foi questionado a respeito do salário do maestro John Neschling, R$ 150 mil mensais, valor confrontado com a constatação de que o maestro passa mais de seis meses por ano fora do país. O ex-secretário e ex-ministro disse que, por ser socialista, não concorda com as diferenças salariais praticadas no Brasil, mas que estava sujeito às condições do mercado.
Ele elogiou o trabalho de Neschling. Sobre as ausências do maestro, devolveu a pergunta: “Mas ele fez um bom trabalho?”