Existe um provérbio popular que afirma que política não se discute. Difícil dizer quando que isso surgiu, mas considerando a história da nossa política, é fácil entender o motivo de muitos acreditarem na veracidade dessa frase. Não é de hoje que algumas militâncias partidárias adotaram o confronto, ao invés do entendimento, como meio para alcançar seus objetivos.
A prática constante desse comportamento ampliou a repulsa pelo debate de opiniões contrárias, elemento fundamental para o desenvolvimento de novos conceitos, projetos e planejamento. Todos perdem com isso, pois a comunicação é essencial para a política e a pluralidade de ideias, conceitos, crenças e ideologias enriquecem o diálogo, agregam conhecimento e permitem análises mais profundas sobre diferentes temas.
Ainda temos um longo caminho a percorrer para alcançarmos o debate em sua plenitude e tivemos um exemplo prático disso nesse domingo (31), durante manifestação a favor da saída definitiva de Dilma Rousseff da presidência realizada em Curitiba, quando a atriz Letícia Sabatella, reconhecidamente uma defensora do PT, foi ofendida pelos manifestantes. Um cenário de erros formado por quem buscou constrangê-la, uma vez que jamais devemos perder a civilidade para expor um ponto de vista, e pela própria atriz, que agiu como uma agente provocadora.
Apesar de afirmar que estava no local a passeio, é difícil acreditar que uma pessoa que defende de maneira tão aguerrida a gestão petista não soubesse que haveria manifestação contra Dilma naquele horário e, por ser uma figura pública, que sua presença causaria reações. Provavelmente optou em aparecer lá para provocar, ser ofendida e tirar o foco do debate político – a tática do confronto, muito utilizada pelos adeptos do lulopetismo e que só interessa para aqueles que buscam a promoção da intolerância e divisão entre os brasileiros.
Infelizmente vivemos em uma época de decepção com a política e a população está, com diversos e justos motivos, impaciente para lidar com militantes partidários. Ainda assim, é importante lembrar que naturalmente apenas os argumentos embasados, juridicamente corretos e realistas se sustentam e, ao alimentarmos esse debate, fortalecemos nossas instituições e eliminamos qualquer ação de pessoas que buscam provocar conflitos para se aproveitar da reação.
A democracia necessita do contraditório, da discussão e da análise constante, mas para isso acontecer precisamos nos livrar de velhos vícios da nossa política, como a utilização do confronto como forma de alcançar objetivos, e nos focarmos no debate construtivo. Opiniões divergentes, quando apresentadas com respeito e civilidade, são essenciais para construir propostas e políticas públicas abrangentes e que contemplem toda a sociedade.

Marcello Richa é presidente do Instituto Teotônio Vilela do Paraná (ITV-PR)