Saí pouquíssimas vezes do Brasil. O mais longe que fui foi até a cidade de La Paz, na Bolívia, quando cobri o Atlético na Libertadores pela Rádio 98FM. Não tenho, portanto, um conhecimento profundo do comportamento e a reações de outros povos.

Mas por tudo que já vimos e ouvimos por aqui, com o discernimento de sermos um pouco menos alienados do que a grande massa, tenho a certeza de que somos chatos pra caramba. Nunca estamos satisfeitos. Acompanhar as Olimpíadas e analisar a reação das pessoas aos resultados obtidos pela nossa delegação (note que falo de todos os esportes) pode render um belo estudo de caso do comportamento humano.

Uma surra no judô, um 5 no tiro, uma raquetada no tênis de mesa, uma lavada na natação ou um (dois) empate (s) vexatórios no futebol bastam para que nos insurjamos contra o que aparentemente gostamos de chamar de fracasso olímpico. Sempre me incluo nas críticas que faço, pois invariavelmente já cometi as falhas que aponto ou estou rodeado de gente que o faz.

Deixarei o futebol de fora. Aliás, lembrei-me de uma postagem do meu amigo e também jornalista Jairo Júnior, da Transamérica, no Facebook. Ele critica, com razão, aqueles que surgem a cada quatro anos, tais quais os políticos, e bradam a favor dos esportes mais desprezados pela grande mídia. Estes críticos, porém, normalmente não são capazes de assistir a um jogo de polo aquático ou handebol, ou mesmo uma prova de ginástica na TV (que dirá ao vivo) se não estivermos em época de Olímpiada. Aí aparecem do nada para posar de preocupados com estes esportes quando surge um caso de superação, no estilo contra tudo e contra todos, como o da nossa primeira medalhista olímpica da temporada.

O ouro, quando vem, nos orgulha muito, mas um bronze não parece brilhar da mesma forma para os brasileiros. Mesmo que você explique e prove por A + B que um terceiro ou quarto lugar são excepcionais se considerarmos o universo de algumas centenas de milhares de praticantes pelo mundo, parecemos fracassados em somarmos resultados como o sobrenatural Michael Phelps.

As conquistas brasileiras só ganham maior proporção pelas histórias de vida de seus praticantes. Rafaela Silva é um orgulho não só pela medalha, mas pela sua história e porque mais uma vez nos joga na cara que o problema dos eventuais fracassos dos nossos atletas é bem maior do que se imagina. Nosso primeiro ouro na Rio 2016 foi conquistado por uma mulher, negra, de origem humilde, paupérrima, que saiu da Cidade de Deus para superar todas as adversidades e circunstâncias que a aproximavam da criminalidade e vencer no esporte.

A conquista dessa mulher de poucos sorrisos, mas muitas lágrimas – do alto do pódio elas foram de emoção – é mais um de tantos exemplos que já tivemos de que o talento supera a falta de apoio e incentivo financeiro. Mesmo que ela receba uma bolsa atleta ou coisa que o valha, a vitória aconteceu quase que por um acaso, por um desviou de rota de um destino pré-traçado.

Sem educação de qualidade e condições de uma infância próspera, saudável e feliz, apenas fenômenos como Rafaela Silva conseguirão triunfar.

Para um dia sermos uma meia potência no esporte, tenho quase certeza de que teremos que nascer de novo como nação. O Brasil que conhecemos não dá indícios de que pode, um dia, criar vencedores no esporte em larga escala. Seja pelas suas políticas públicas, seja pela má vontade dos próprios brasileiros. Os que surgem são exceções. Raras, infelizmente.

Eduardo Luiz Klisiewicz é curitibano, jornalista, radialista e empresário.