Mulher, negra, pobre e lésbica, Rafaela Silva virou heroína nacional nesta semana, ao dar o primeiro – e até quando escrevo essa coluna, único – ouro do Brasil nos Jogos Olímpicos do Rio 2016. Muita gente vibrou com Rafaela, alguns dos quais virariam a cara para ela não fosse a magia do esporte. Na Olimpíada passada, Rafaela foi execrada nas redes sociais, onde, mascarado por um IP, o brasileiro é preconceituoso, machista, misógino e racista. Como se fosse simples estar entre os melhores do Mundo em uma disputa, após anos de pouco apoio. O apoio recebido por Rafaela veio do Governo Federal com uma de suas tão criticadas bolsas. A Bolsa Pódio e mais outro programa do Exército Brasileiro, também mantido pelo Governo Federal, abrigaram Rafaela e o medalhista de prata Felipe Wu. A judoca saiu de uma ONG do ex-judoca Flávio Canto, mantida com renúncia fiscal, outro programa assistencialista do Governo, em parceria com a iniciativa privada. Na opinião de muitos – os que insistem em negar o valor das bolsas de incentivo e de cotas sociais – Rafaela jamais deveria ter chegado às Olimpíadas. Esporte seria coisa pra quem pode pagar academia. Rafaela é ouro na vida, mais que nos jogos: escapou de ser avião do tráfico na Cidade de Deus para receber aplausos de todo o Brasil – até de quem nem mereceria comemorar seu feito.

O esporte como instrumento social
O maior exemplo que Rafaela pode dar é de que o Brasil precisa olhar para suas crianças desamparadas e tirá-las do caminho do crime, da marginalidade e das drogas. O esporte cumpre bem essa função social. Originalmente é pra isso, e não para fazer contratos milionários de patrocínios que enriquecem cartolas, que clubes e federações contam com uma série de isenções fiscais. Rafaela é e seguirá sendo exceção. Nem tanto por ter origem pobre, mas muito mais porque é muito difícil se tornar um atleta profissional de ponta. Ela venceu, mas outras judocas que lhe acompanharam nesse caminho, mesmo sem vitórias esportivas, também venceram. Toda criança que deixou o ócio e a pré-disposição nas comunidades pobres brasileiras para praticar algum esporte, venceu. Saiu do caminho do crime, ganhou disciplina, orientação, respeito. Toda criança que foi para a escola, e não para a rua, venceu. O Brasil só vai vencer essa luta quando esse caminho for aberto para todos. A ignorância e o preconceito de muitos não permite que esse conceito seja compreendido. Todo bandido é uma criança que caiu no caminho mais fácil. Isso não o isenta de seus crimes, mas insistir na cultura da culpa, e nunca do tratamento e prevenção, não soluciona o problema futuro. O maior legado que a Olimpíada pode deixar ao Brasil é a cultura esportiva arraigada na infância. Se o Governo tiver que pagar essa conta, será a melhor conta já paga. Melhor que qualquer aposentadoria ao legislativo ou bolsa-terno ao judiciário, melhor que qualquer passagem de deputado para congressos em Paris. Pelé, quando marcou o gol mil, pediu que olhássemos pelas crianças. Rafaela é uma delas.

Brasileirão
Entre um ouro e outro de Michael Phelps, o Coritiba lembrou de Paulo Cesar Carpegiani para livrar o time da queda. Estreou com vitória importante. Carpegiani foi o melhor que o Coxa achou no mercado e coube no bolso. O último bom trabalho de Carpegiani foi há 6 anos, no Atlético; nos últimos 3 não trabalhou em clubes. Ainda assim, tem mais a oferecer que muitos nomes no mercado. Mas o que vai ajudar mesmo o Coxa é um norte no clube, um comando firme na direção e salários em dia.

Napoleão de Almeida  |  Twitter: @napoalmeida