JOSÉ HENRIQUE MARIANTE, ENVIADO ESPECIAL
RIO DE JANEIRO, RJ (FOLHAPRESS) – Andy Murray é campeão. Juan Martin Del Potro também, pelo menos pelas quatro horas em que disputou, na noite deste domingo (14), a final emocionante do mais emocionante campeonato olímpico de tênis da história. Duelistas, que desfilaram argumentos para se credenciar ao ouro enquanto conseguiam ficar de pé. E que se abraçaram e choraram logo depois que um slice bobo que foi parar na rede pôs fim à disputa, como se o vencedor tivesse sido escolhido na sorte.
Não foi. Murray, 29, é bicampeão olímpico, o primeiro do tênis em simples, porque alguém tem que ganhar, mesmo que seja por uma unha. Del Potro, 27, deu todas as unhas dos pés, mas não levou. Ou levou, não o ouro, mas um estádio gritando seu nome como se fosse o campeão e o privilégio de ter protagonizado uma semana incrível, “talvez ainda mais incrível pelo jeito que aconteceu”, como disse o próprio argentino, esgotado após a partida.
Não menos extenuado que Murray, incapaz de grandes elaborações. “Estou muito cansado.. Foi uma das partidas mais difíceis da minha carreira, muito difícil, muito desgastante. Foi incrível ganhar.”
“Foi muito mais difícil que ganhar em Londres. A situação era completamente diferente, aqui foi tudo muito mais complicado”, declarou o escocês, britânico nos Jogos, após a decisão disputada em quatro eletrizantes sets (7/5, 4/6, 6/2 e 7/5), impressionantes como todo o campeonato.
“Entrei no jogo muito cansado. Tinha vontade de vomitar. Parecia que a bolinha vinha a mil por hora, a visão ficava turva. Gastava toda a energia possível para responder direito, para terminar o jogo de pé”, disse o argentino, que vinha de mais de três horas de uma semifinal não menos desgastante contra Rafael Nadal.
O primeiro set é isso, Murray atlético, superior, variando as jogadas e com muita paciência para não entrar nas armadilhas do argentino cansado. Abre 4 a 1, apesar da torcida gritando ‘Delpo, Delpo’ a cada troca de serviço. Atrapalha? Não, “é muito diferente, gente gritando, vaiando, como acontece na Copa Davis, público dividido, mas é muito legal, não temos isso no circuito.”
Del Potro, apesar de cometer muitos erros, devolve a quebra e faz 4 a 4. Um longo rali de slices e forehands violentos e precisos, que por pouco não se transforma em xadrez. No decisivo game, o argentino salva um set point, mas Murray não desperdiça a segunda chance que tem, fechando em 7 a 5. Uma hora e 14 minutos de bom tênis, frio, estudado, longe das emoções da semifinal Del Potro x Nadal.
Começa o segundo set, e o cansaço de Del Potro é ainda mais visível. Apoiado na rede, aplaude a jogada do adversário após desperdiçar um break point. Na segunda chance que tem, o cansaço se esvaia e uma poderosa passada quebra o serviço de Murray. “Tinha um país atrás de mim, não podia decepcioná-los.”
Del Potro é a antítese de Murray, não é atlético, joga em um modo economia de energia. Não corre atrás da bolinha. Se não está no lugar certo, paciência, próximo ponto. Se está, paulada na bola, já que fazer o ponto acabar logo também é economizar. Tênis maduro, pragmático, o que preferir.
O estádio se submete ao estudo em quadra, se aquieta, não canta mais. Delpo faz 3 a 1, e a porção argentina vê que é o momento, esquece o estudo e volta a cantar. Delpo faz 4 a 2, o estádio é argentino. Placar em 5 a 4, Delpo desperdiça dois set points e faz grande jogada para ficar de novo com a vantagem. Ante do ponto final, para, escancara o cansaço/esforço, inflama a torcida. Ponto final, set, o estádio recomeça a cantar.
No terceiro set, Murray é melhor nos fundamentos, na técnica, mas Del Potro é mais divertido de ver jogar. Parece um Romário, que só se mexe quando vale a pena, para ser letal. Murray faz 40 a 0 e permite dois pontos geniais de Del Potro, mas fecha e deixa o placar em 5 a 2. Del Potro precisa de ajuda, e o estádio canta e vira a Argentina. Mas o rendimento cai na hora errada, e o escocês quebra seu serviço e fecha o terceiro set em 6 a 2.
O quarto set começa em grande estilo, três serviços, três quebras. Del Potro inflama a torcida com ponto vencido em disputa franca na rede, com os dois tenistas frente a frente. Del Potro saca com placar em 2 a 1. Mais uma quebra, e o ônus parece agora ser de quem saca.
Pontos incríveis se sucedem, mas Murray é mais forte. E, depois de salvar um match point, o slice bobo e fim de campeonato. Não foi só cansaço. “Ele foi mais inteligente do que eu na quadra”, afirmou o argentino, que chorou em todos os jogos. “Foi o jeito que encontrei para chegar aqui.”