PAULO GOMES
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Os residentes médicos do departamento de cirurgia da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo estão sem trabalhar desde segunda-feira (22). Eles protestam contra o número expressivo de pacientes aguardando cirurgia que não podem ser operados, em especial os com câncer.
A medida ocorre após o hospital deixar de fazer, em julho, as chamadas cirurgias eletivas -as que não têm caráter de urgência. Cirurgias emergenciais continuam a ser feitas no pronto-socorro e na UTI (unidade de terapia intensiva) da Santa Casa.
“Vínhamos tentando resolver os problemas, mas continuam chegando pacientes para consulta e temos que fazer o encaminhamento (para cirurgia). Temos mais de 300 pacientes com câncer, parados, e não conseguimos ‘devolvê-los’ para outros hospitais”, diz Felipe Lacerda, 28, residente médico do departamento de cirurgia.
Lacerda afirma que a suspensão “comprometeu os pacientes” e que, com ela, “um tumor pode evoluir muito rapidamente e se tornar inoperável”. Ele diz que a paralisação tem como objetivo forçar a direção da instituição a dar uma solução para os pacientes que se encontram nesse impasse.
Além do departamento cirúrgico, a equipe de residentes da cirurgia pediátrica, do departamento de pediatria, também aderiu à paralisação. No total, são 119 residentes sem trabalhar. Apenas 10 dos 123 residentes do departamento cirúrgico não aderiram.
CRISE
A Santa Casa passa pela maior crise de sua história. Com um dívida de R$ 868 milhões com fornecedores e credores, o hospital pleiteia um aporte financeiro de R$ 360 milhões do BNDEs e da Caixa Econômica Federal para conseguir retomar sua plena atividade.
Em nota, a Irmandade da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo afirmou que continua na expectativa de receber aporte financeiro para reestruturar sua dívida. O hospital diz que as cirurgias marcadas com antecedência continuam restritas -no final de julho, tinha afirmado que um “respiro financeiro” ocorreria ainda na primeira semana de agosto e que os pacientes teriam suas cirurgias remarcadas, o que não ocorreu.
A instituição confirmou a paralisação dos residentes da cirurgia, de um total de 755 médicos residentes. “A Santa Casa conta com um corpo clínico composto por 1.213 médicos, além dos residentes que não aderiram à paralisação, e, portanto, o atendimento ambulatorial não será afetado”, informou.
A nota afirma ainda que a segurança dos pacientes é “prioridade absoluta” e que, portanto, o hospital “só retomará o ritmo de realização de cirurgias eletivas quando houver todas as condições necessárias para prestar este serviço”.