RODOLFO VIANA SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Chega a ser obsceno lembrar do mercado editorial em 2011. O setor vendeu quase 469,5 milhões de exemplares naquele ano. Em valores corrigidos pelo IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor), faturou pouco menos de R$ 6,4 bilhões. O governo era um grande comprador, responsável por 29% das unidades vendidas. O ano passado foi bem diferente: as editoras fizeram R$ 5,2 bilhões com venda inferior a 389,3 milhões de exemplares. O governo fechou a mão, ficando com 23%. Estes são alguns dos números apresentados pelo dossiê “10 Anos de Produção e Vendas do Setor Editorial Brasileiro”, uma compilação de dados coletados entre 2006 e 2015 pela Fipe (Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas da Universidade de São Paulo) e divulgados ano a ano pela CBL (Câmara Brasileira do Livro) e pelo Snel (Sindicato Nacional dos Editores de Livros).

Alguns números são curiosos, como o do preço médio. Considerando a inflação no período -ou, então, equivalendo o dinheiro de 2006 ao de 2015-, comprar um livro hoje sai mais em conta do que há dez anos. O consumidor em 2006 pagava, em média, R$ 24,45 por um título; hoje, desembolsa R$ 15,72. Também é interessante observar o volume de vendas. Em 2006, sem contabilizar compras governamentais, o mercado vendeu 193,25 milhões de exemplares. Chegou a 283,98 milhões em 2011 e, apesar da queda, as vendas fecharam 2015 em 254,7 milhões de unidades -24,1% de aumento na comparação com o início da série histórica.

Mas as boas notícias param por aí. Segundo Marcos da Veiga Pereira, presidente do Snel, em nota divulgada nesta quarta (24), a análise da série histórica frustrou algumas expectativas. “Dada a grande carência de leitura no Brasil, esperávamos que a indústria livreira andasse minimamente alinhada com o PIB, o que não aconteceu”, afirma. Na década, o segmento mais afetado foi o de obras gerais, que sofreu duas quedas bruscas. A primeira foi entre 2009 e 2011, quando o faturamento caiu de R$ 1,86 bilhão para menos de R$ 1,4 bilhão (24,6%). A segunda foi de 2014 (com faturamento de R$1,41 bilhão) para 2015 (R$ 1,14 bilhão), perfazendo queda de 22,8%.

Em contrapartida, livros religiosos tiveram o melhor desempenho no período. Com faturamento de R$ 517,4 milhões em 2006, o subsetor chegou a fazer R$ 698,3 milhões em 2010 -crescimento de 25,9%. Depois disso, houve oscilações, e o segmento fechou 2015 próximo de R$ 560 milhões -queda significativa em relação a 2010, mas crescimento acumulado de 8,2%. As obras científicas, técnicas e profissionais -CTP na nomenclatura da pesquisa- também tiveram bom desempenho. O segmento apresentou crescimento de 19,3% entre 2006 e 2011 (de R$ 1 bilhão para R$ 1,2 bilhão) -nesse período, o número de estudantes universitários no Brasil saltou de 3 milhões para 6,5 milhões.

O subsetor manteve-se praticamente constante até 2014, quando faturou R$ 1,19 bilhão. Para 2015, a queda foi brusca, atingindo R$ 983 milhões. Os didáticos praticamente acompanharam as compras do governo. Em 2006, quando as compras estatais representavam 40% do faturamento do subsetor, o mercado faturou R$ 2,62 bilhões. Cinco anos depois, quando a participação do governo representava metade do faturamento, fez R$ 3,14 bilhões. No ano passado, com o freio puxado na economia, o segmento fez R$ 2,54 bilhões, dos quais 46% foram de vendas ao governo.