SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Uma menina de oito anos de idade foi retirada com vida dos escombros de uma casa na cidade de Pescara del Tronto no fim da tarde desta quarta (24), quase 17 horas depois do forte terremoto que atingiu a região central da Itália.A notícia foi comemorada de forma efusiva por duas mulheres, que correram pelas ruas da cidade gritando “ela está viva”. Segundo o chefe dos bombeiros no local, a garota foi levada ao hospital, mas não há detalhes sobre seu estado.

Crianças estão entre as principais vítimas do tremor de magnitude 6.2 que deixou ao menos 120 mortos e mais de 360 feridos no país, segundo a ministra da Saúde da Itália, Beatrice Lorenzin. Ela não revelou quantas das vítimas encontradas até o momento são crianças.

Na cidade de Accumoli, uma das mais atingidas, uma família inteira, incluindo uma criança de nove anos e outra de apenas oito meses, morreu soterrada. “Ele levou todos eles de uma vez”, lamentava a avó das crianças enquanto as equipes de resgate retiravam os corpos dos destroços.

O jornal italiano “Corriere della Sera” reuniu em seu site vários relatos do difícil resgate a essas crianças. “A cada notícia positiva, logo se segue uma negativa”, diz. Segundo a publicação, pela manhã foram encontradas duas crianças com vida e quatro mortas na cidade. Em Pescara del Tronto, dois meninos de 4 e 6 anos de idade foram resgatados por seu próprio pai, que cavava os escombros junto com equipes de bombeiros. Segundo a imprensa italiana, o pai havia retornado na noite anterior de Roma para buscar os filhos que estavam na casa dos avós. A avó salvou a vida dos meninos abrigando-os sob a cama ao sentir o terremoto.

DESTRUIÇÃO E SILÊNCIO

A região atingida pelo terremoto é uma área muito usada como local de lazer da população de Roma, e costuma ficar mais cheia em agosto por conta das férias escolares. Diversos vilarejos foram afetados, especialmente as cidades de Amatrice, Accumoli e Pescara del Tronto. Algumas localidades ficaram com parte de suas construções desmoronadas.

A tristeza e o silêncio tomaram conta do povoado de Accumoli. A população espera em silêncio que um ruído, um grito, um sinal, sirva para resgatar com vida amigos e parentes. “Aqui se ouvem apenas os gatos”, disse Guido Bordo, 69, enquanto espera notícias sobre sua irmã, soterrada pelos escombros. “Não dá sinais de vida”, afirma desolado.

Angustiado, Bordo deposita todas as suas esperanças na escavadeira, porque até agora cavou com as mãos, sem luvas ou pás, para retirar a montanha de escombros, as pedras, vigas e pedaços de janelas que se acumulam diante da residência de sua irmã. “Eu não estava, mas assim que o terremoto foi registrado corri até aqui. Conseguiram tirar os filhos da minha irmã, que agora estão no hospital. Mas ela e seu marido não aparecem”, contou.

RESGATE DIFÍCIL

Bordo e seu irmão Domenico, junto com outras 30 pessoas, esperam por informações em um espaço organizado nos arredores do povoado. Sua irmã e seu marido estavam passando férias nesta região e estão na lista de desaparecidos, enquanto os corpos de outras cinco pessoas já foram retirados.

Pouco depois do meio-dia, quase nove horas depois do primeiro tremor, registrado de madrugada, as gruas e escavadeiras do exército ainda não haviam chegado ao povoado, situado a 800 metros de altura. Um helicóptero voava continuamente pela região, enquanto uma ambulância descarregava duas macas perto de uma casa desabada. Uma dezena de bombeiros vasculhava os escombros com pás antes da chegada de funcionários especializados, com cães farejadores, barracas e cozinhas para organizar a primeira noite das vítimas desabrigadas.

SEM ESPERANÇA

A desolação invade toda a localidade, pedaços de persianas se misturam com cestos de flores, fragmentos de concreto com pedaços de cobertores, restos de móveis com sapatos destruídos. Duas mulheres soluçavam e se abraçavam diante de uma casa desabada.

Na praça principal, equipes dos bombeiros utilizavam dois cachorros com a esperança de encontrar alguém com vida. Um dos cães farejadores parou repentinamente e voltou a um ponto em particular: ali a escavação deveria começar. No entanto, Daniela Romanato, bombeira que participa da operação de resgate, não tem muitas esperanças. “Os cachorros foram treinados para buscar e indicam o local onde as pessoas estão presas”, explicou. “Mas, como não latiu, é muito provável que a pessoa esteja morta”, explicou. “Estamos enviando um cachorro menor para ver se consegue entrar até o local onde está a pessoa presa, mas é pouco provável que haja um sobrevivente aqui”, acrescentou.