Somos do tamanho dos nossos sonhos. É um ditado comum, mas verdadeiro: não há como chegar além se não idealizarmos algo melhor. Por isso admirei a declaração de Kléber de que o Coritiba deve sair da letargia de brigar contra o rebaixamento para aspirar verdadeiramente o título da Sul-Americana, que começa hoje; por isso lamentei a inexplicável retração atleticana às vésperas de seguir na Copa do Brasil, ao dispensar seu principal atacante para um clube da Série B, sem ter peça de reposição. A derrota para o Grêmio foi justa, por refletir a pretensão de cada um.

Palavra do Gladiador
Kleber, por exemplo, acredita no título sul-americano, a começar do jogo de hoje contra o Vitória. Ele está certo: acreditar é o primeiro passo. O Coritiba que venceu bem o Santos, de virada, é o Coxa capaz de sonhar. Vai acabar se dividindo entre Brasileirão e Sula, mas precisa ter visão de futuro: existem resultados descartáveis no nacional em prol de uma dedicação maior ao mata-mata. Infelizmente o Coxa repete o sufoco dos anos anteriores, brigando embaixo na tabela, mas ainda assim sabe que se fizer os pontos no Couto Pereira, beliscando um ou outro fora, poderá descartar jogos mais complicados para se dedicar a um título inédito. Essa verdade precisa estar estampada para o torcedor: esse sonho só é possível renegando o Brasileirão dentro de um limite. Ponte Preta e Goiás chegaram à final da Sul-Americana pagando caro com o rebaixamento. É preciso controlar os danos. Mas é também o único caminho financeiramente viável para uma taça de expressão.

Pobre Autuori
Em 2008, o Atlético quebrou o recorde de vitórias consecutivas do mítico Furacão de 49. Clayton e Ferreira comandavam a equipe, que havia vencido o Coritiba no Couto por 2 a 0, ultima vitória antes da decisão desse ano, com gols de Walter e Ewandro. A diretoria, também capitaneada por Petraglia, vendeu ambos. O Coxa acabou campeão. Em 2016 a história se repete: o Atlético tinha um bom time, mas algo falou mais alto. Talvez a oportunidade de negócio. Petraglia liberou Walter, Sallim calou-se e o time não faz gols há quatro jogos. Os últimos foram de Walter. Houve quem culpasse Paulo Autuori pela derrota de ontem; ou miopia ou má intenção. Autuori deveria ser exaltado como funcionário do mês, como Ney Franco naquele 2008. Eles precisam por em campo algum time. Ambos lordes no trato com as perdas, aceitam o que têm. Pobre Autuori, a quem o São Paulo convidou para voltar: acreditou que podia ir além, mas lhe tiraram as pernas.

Água limpa
Por falar em sonhos possíveis, o Brasil finalmente conquistou o Ouro Olímpico no futebol. Weverton, goleiro atleticano, foi peça fundamental, pegando um pênalti na série de desempate. Lembro-me de Petraglia justificando o negócio do pentacampeão Kléberson com o Manchester United dizendo que agora ele bebeu água limpa, jogou cacheta com Ronaldo, quer ganhar em dólar. Nada mais justo, o Xaropinho foi fazer carreira fora, ajeitou a vida, ergueu taça por United, Besiktas, Flamengo, jogou outra Copa e passou pelo Atlético antes do ocaso nos EUA. Weverton também vai viver esse ciclo. Goleiro de destaque há algumas temporadas, merece ser homenageado pelo clube e ter seu contrato renovado, para que a água limpa que ele venha a beber seja de fontes europeias. Perder um goleiro histórico para o eixo Rio-São Paulo seria um anti-clímax total para o gigantismo que MCP propõe na Baixada. Em tempo: o Grêmio tem uma estrela dourada em sua bandeira em homenagem a Everaldo, campeão do Mundo em 1970. O Penta e o Ouro de dois de seus atletas não mereciam algo mais significativo na história do Atlético?

Napoleão de Almeida é narrador esportivo e jornalista especializado em gestão