DIOGO BERCITO, ENVIADO ESPECIAL PESCARA DEL TRONTO, ITÁLIA (FOLHAPRESS) – As casinhas de pedra de Pescara del Tronto foram construídas nas encostas montanhosas dos entornos. Nesta quinta-feira (25), um dia após o forte terremoto que atingiu o centro da Itália, elas haviam desaparecido, deslizadas uma em cima da outra. De manhã, moradores voltavam ao cenário de seu trauma para recuperar pertences e avaliar o dano. “Precisamos dos nossos documentos, dos nossos telefones”, afirma à reportagem Marcelo enquanto pede autorização dos bombeiros para visitar sua casa, danificada. Ele prefere não dizer o sobrenome. Marcelo acordou durante o terremoto, assustado pelo tremor. Sua família estava presa por destroços que haviam bloqueado a porta. Apressados, saíram pelas janelas. Ninguém se feriu gravemente. “Foi muito forte.” Pescara del Tronto foi cenário de um dos resgates mais emblemáticos deste desastre. Uma menina de oito anos de idade foi retirada viva de debaixo dos escombros 17 horas após o terremoto. “São histórias que simbolizam nossa vontade de viver”, diz à reportagem o bombeiro Danilo Dionisi, que estava presente no momento. “Buscávamos a menina desde cedo. Quando encontraram ela, chorando, houve uma exaltação. Um silêncio. Nos deu força para continuar.” Dionisi afirma que as buscas seguirão, e que nenhum dos socorristas trabalha com a hipótese de que já não haja sobreviventes. “Manteremos a mesma força.” Enquanto as equipes seguiam sua procura entre as ruínas de Pescara, Giovanni D’Ercule caminhava saudando os moradores, acalmando-os. Bispo da região de Ascoli Piceno, ele havia viajado à cidade para “escutar”. “Me perguntam coisas como ‘por que meu filho morreu antes de mim?’, e eu só posso ouvir.” No topo de uma das encostas, diante da destruição do povoado, diz: “uma das infelicidades desse tipo de desastre é que essas casas nunca vão ser reconstruídas. As pessoas não vão mais voltar. No inverno, o lugar vai estar abandonado”. TENDAS Em outra das cidades mais afetadas pelo terremoto, Amatrice, alguns dos moradores dormiam em um parque, em tendas improvisadas. De uma das casas dessa localidade de 2.600 habitantes, na quinta-feira havia apenas o batente da porta e as pedras arruinadas. “Foi longo e violento”, Nadia Rendina, 53, descreve o desastre. Ela diz que, ainda que sua casa não estivesse rachada, não teria coragem de dormir ali. “As coisas caíam em cima da gente, e conseguimos escapar.” Durante o dia, a reportagem aproximou-se de uma construção e perguntou a uma das funcionárias se aquele era um dos hotéis da cidade. “Era”, Coca Cimpoiashu, 56, respondeu, com o rosto marcado por olheiras. “Agora não há nada.” DEVASTAÇÃO O número de mortos do terremoto devastador que atingiu a região central da Itália subiu para ao menos 247 nas primeiras horas desta quinta-feira, depois que as equipes de resgate viraram a noite vasculhando destroços em busca de possíveis sobreviventes sobre os escombros de cidades destruídas. Autoridades disseram acreditar que o número subirá ainda mais, à medida que continuam os trabalhos de buscas. O tremor de magnitude 6,2 atingiu uma área que reúne várias pequenas cidades italianas a 140 quilômetros a leste de Roma na madrugada de quarta-feira, enquanto a maioria das pessoas dormia, destruindo centenas de casas. Centenas de tremores secundários atingiram a região depois do terremoto. Nesta quinta-feira, o sol acordou pessoas assustadas que dormiram dentro de carros e em barracas, com a terra ainda tremendo. Duas réplicas pouco antes do amanhecer tiveram magnitude 5,1 e 5,4.