SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O vice-ministro do Interior boliviano, Rodolfo Illanes, foi retido por mineiros que ocupam há três dias estradas no centro-oeste do país em protesto à prisão de dez colegas. Na tarde desta quinta (25), Illanes falou à rádio local Pio 12 que não foi maltratado pelos manifestantes e voltou a pedir diálogo. “Não recebi nenhum maltrato. Estou retido pelos companheiros que pediram várias coisas para poder viabilizar minha liberação”, disse o vice-ministro, segundo o site boliviano Érbol.

Illanes estava na região de Panduro, onde os manifestantes ocupam uma estrada, justamente para dialogar com o grupo. Uma das exigências seria a saída da polícia do local. Na quarta (24), houve confrontos entre mineiros e policiais. Pelo menos um “piqueteiro” morreu.

Mais cedo, o ministro do Interior, Carlos Romero, havia dito, em entrevista coletiva, que Illanes fora “sequestrado” por cooperativistas mineiros que estariam ameaçando “começar a torturá-lo”. Um dirigente do setor, Agustín Choque, citado pela rádio Compañera, respondeu que o vice-ministro não estava sequestrado, “apenas retido”.

EXIGÊNCIAS

Os mineiros, que estão agrupados em cooperativas privadas, tomaram as estradas na segunda-feira (22), exigindo a libertação de dez detidos sob acusação de atentar contra a vida de policiais e contra bens do Estado. A acusação remete a confrontos esporádicos ocorridos no início de agosto. Eles também querem negociar diretamente com o presidente Evo Morales, seu aliado político, um documento setorial rejeitado de antemão pelo governo. Esse setor ocupa importantes cargos no Executivo e no Congresso, onde conta com senadores e deputados.

Segundo Romero, os mineiros do setor cooperativo pressionam para alugar suas concessões mineradoras para empresas privadas, ou estrangeiras, uma ação proibida pela Constituição. A imprensa divulgou o conteúdo de 36 contratos desse tipo firmados pelos mineiros. Foram registrados confrontos em Sayari, Cochabamba (centro), e as estradas estão cheias de pedras e escombros.

Na quarta-feira (24), pior dia de violência, houve duas baixas por parte dos mineiros em estradas de Cochabamba, segundo a Federação Nacional de Cooperativas de Mineiros (Fencomin). Já o governo anunciou um morto. A possibilidade de iniciar negociações, abertas por gestões da Defensoria do Povo, havia fracassado nesta quinta, devido às baixas na categoria. Por causa do clima de tensão, Romero insistiu em que “as portas do diálogo estão abertas”, com a condição da “suspensão definitiva de todos os bloqueios”.