SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Nesta sexta-feira (26), o presidente da Bolívia, Evo Morales, expressou “profunda dor” pela morte do vice-ministro do Interior, Rodolfo Illanes, sequestrado e assassinado por mineiros que protestam há cinco dias na região de Panduro, no oeste do país. Evo afirmou que os protestos são uma “conspiração política” contra seu governo. De acordo com Reymi Ferreira, ministro da Defesa, “há entre 100 e 120 detidos” ligados ao crime e os “cabeças do grupo já foram identificados”. “Este ato não pode ficar impune, serão punidos judicialmente”, declarou Ferreira. O segurança de Illanes conseguiu fugir e foi atendido em um hospital de La Paz. O corpo de Illanes, sequestrado na quinta-feira (25), foi abandonado envolto em um cobertor na rodovia entre as cidades de Oruro e La Paz, de onde foi levado a uma clínica para a realização da autópsia. Segundo o jornalista Moisés Flores, diretor da rádio Fedecomín, que disse ter visto o corpo do político, ele teria sido linchado. Os mineiros tomaram as estradas na segunda-feira (22), exigindo a libertação de dez detidos sob acusação de ameaças a policiais e a bens do Estado. A acusação remete a confrontos esporádicos ocorridos no início de agosto. Eles também queriam negociar diretamente com o presidente Evo Morales, seu aliado político, um documento setorial rejeitado de antemão pelo governo. “Nesta mobilização da Fencomin (Federação Nacional de Cooperativas Mineiras) havia uma conspiração política, e não uma reivindicação social para o setor”, disse o mandatário, que se reuniu na madrugada com seus ministros para analisar a situação, em entrevista coletiva na Casa de Governo. Illanes, assessor do sindicato de produtores de coca, do qual o presidente é líder há quase 30 anos, foi declarado “herói defensor dos recursos naturais”. O governo também declarou “luto durante três dias em nível nacional sem suspensão de atividades”. Evo ainda pediu às autoridades que punam não só os que mataram Illanes, mas também os mentores do assassinato. Os mineiros protestam contra uma norma que permite a criação de sindicatos dentro de cooperativas, embora, segundo o governo, a medida não os prejudique. O ministro do Interior, Carlos Romero, afirmou que os mineiros tentam conseguir autorização para locar suas concessões de mineração a empresas privadas ou estrangeiras, algo que a Constituição proíbe. Ainda de acordo com Romero, eles tentam acumular mais poder dentro do Executivo. “Os que protestam são cooperativistas comprometidos com transnacionais”, denunciou Romero. A imprensa divulgou o conteúdo de 36 contratos desse tipo firmados pelos mineiros. Os mineiros cooperativistas ocupam cargos no Executivo, em uma superintendência do setor e no Congresso, no qual conta com senadores e deputados. Nos enfrentamentos registrados nos últimos três dias, 20 policiais ficaram feridos e dois permanecem sequestrados pelos mineiros de Cochabamba (centro), segundo dados oficiais. De acordo com informação publicada nesta sexta pela rádio local Erbol, três mineiros foram mortos. A possibilidade de iniciar negociações, abertas por gestões da Defensoria do Povo, havia fracassado na quinta, devido às mortes na categoria. Depois de três dias de confrontos esporádicos com a polícia pelo controle das estradas, no final da tarde de quinta o grupo de mineiros havia acertado com o governo o início de uma negociação para esta sexta, sob a condição de que os bloqueios fossem levantados. “PROTEGIDO PELOS COMPANHEIROS” Illanes, um advogado de 56 anos, assumiu o cargo em março deste ano e tentou acalmar os mineiros. No início da tarde de quinta-feira, após o anúncio do sequestro, Illanes havia informado por telefone a jornalistas que estava “muito bem de saúde”, e pediu que “tranquilizassem” sua família. “Estou sentado aqui, protegido pelos companheiros para que ninguém me machuque.” Mas, algum tempo depois, o jornalista Moisés Flores, diretor da rádio Fedecomín, da cooperativa dos mineiros, viu o corpo do vice-ministro sem vida.