GUILHERME SETO E LUIZ COSENZO
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – “Queria um filho menino para ensiná-lo a jogar bola, mas tive três meninas.” O que parecia o fim de um sonho virou paixão e mudou a vida de Francisco Reguera Inojo, o Chicão, 59, técnico da equipe feminina de futebol do Rio Preto, que venceu o Santos na decisão do Campeonato Paulista Feminino neste domingo (28)
Nascido em Bálsamo, cidade do interior de São Paulo, o vendedor de material de construção Chicão virou treinador em 2003. Ele deixou a antiga profissão justamente por influência das filhas Milene e Charlene, que decidiram ser jogadoras de futebol.
“Eu gostava muito de jogar futebol, mas só joguei amador. Minha paixão pelo futebol feminino começou através das minhas filhas. Elas me acordaram um dia de manhã e pediram para levá-las em um torneio. A partir daí eu e a minha esposa ficamos envolvidos com o esporte e não largamos mais”, contou Chicão, citando a esposa Dorotéia de Souza, 56, que exerce o cargo de diretora do futebol feminino do Rio Preto.
Ao contrário dos pais, Milene e Charlene logo desistiram de tentar a sorte no futebol. “O nível ficou muito alto e fiquei com medo de elas se machucarem. A Milene inclusive chegou a quebrar o braço”, contou.
Elas pararam com a bola, mas não deixaram o esporte de lado -são formadas em educação física e trabalham como personal trainer.
O mesmo medo e preocupação Chicão não teve com a sua caçula, Darlene. E tinha razão. A menina virou jogadora profissional e atualmente veste a camisa do Changchun Club, da China. Ela, que já atuou no futebol austríaco e italiano, também integrou a lista de suplentes da seleção brasileira na Olimpíada do Rio.
AJUDA DA PREFEITURA
Assim como a maioria das equipes femininas de futebol de São Paulo, o time tem os salários e os custos de viagens pagos pelo poder público municipal. A folha de pagamento gira em torno de R$ 58 mil. O Rio Preto ajuda a equipe com a estrutura de estádio e uniformes.
“Não temos como concorrer com times como Corinthians, Santos, Ferroviária e São José. Eles possuem mais estrutura que a gente. Aqui pagamos pouco, mas pagamos em dia. Oferecemos também faculdade para as jogadoras”, contou Dorotéia, responsável também por buscar patrocinadores para a equipe.
“Tem dia que desanima, dá vontade de abandonar. Não vivemos do futebol. Minhas filhas que ajudam a gente. Elas perdem para a gente largar, mas não consigo até pelas próprias jogadoras”, finalizou a dirigente.
Campeão brasileiro em 2015 e vice-campeão neste ano, o Rio Preto conquistou no domingo seu primeiro título do Campeonato Paulista.