SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – A presidente Dilma Rousseff classificou o atual processo de impeachment como “golpe”, em seu discurso aos senadores, nesta segunda (29). “Um golpe que se consumado, resultará na eleição indireta de um governo usurpador. A eleição indireta de um governo, que já na sua interinidade, não tem mulheres comandando seus ministérios, quando um povo nas urnas escolheu uma mulher para comandar o país”, afirmou a petista. “Um governo que dispensa os negros na sua composição ministerial. E já revelou um profundo desprezo pelo programa escolhido e aprovado pelo podo.” Após uma pausa para beber água, a presidente foi aplaudida por alguns presentes. Dilma Rousseff afirmou que “há que se configurar crime de responsabilidade, e está claro que não houve tal crime”. Ela disse que afastá-la pelo “conjunto da obra”, como foi alegado por alguns parlamentares ao longo do processo, não é legítimo. “Quem afasta o presidente pelo ‘conjunto da obra’ é o povo, nas eleições”, disse. “A ameaça mais assustadora desse processo de impeachment sem crise de responsabilidade é congelar por inacreditáveis 20 anos as despesas com saúde, educação, saneamento e habitação”, afirmou. Getúlio e Jango Dilma citou presidentes brasileiros que foram afastados ou sofreram tentativas de afastamento, como Getúlio Vargas e João Goulart. “Hoje, mais uma vez, ao serem contrariados e feridos nas urnas os interesses de setores da elite econômica e política, nos vemos diante do risco de uma ruptura democrática”, disse. “Os padrões dominantes no mundo repelem a violência explícita. Agora, a ruptura democrática se dá por meio da violência moral e de pretextos constitucionais, para que se empreste a aparência de legitimidade qeu assume.” A previsão era que ela falasse às 9h, mas a sessão foi só aberta pelo presidente do Supremo Tribunal Federal, Ricardo Lewandowski, às 9h42. Dilma iniciou sua fala às 9h53. Entre os convidados de Dilma está o compositor Chico Buarque, que acompanha o discurso na galeria da Casa. Julgamento Após cerca de 12 horas de sessão neste sábado (27), o Senado encerrou o terceiro dia de julgamento do processo de impeachment da petista. A votação final deve ocorrer na quarta-feira (31), nove meses após o ex-presidente da Câmara e hoje deputado afastado Eduardo Cunha (PMDB-RJ) ter acolhido o pedido de afastamento da petista. Dilma está afastada há quase quatro meses, desde que o Senado aceitou o processo e Michel Temer assumiu interinamente a Presidência. Ele diz já ter os 54 votos mínimos necessários para ser confirmado no cargo.