SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – As negociações entre a União Europeia e os Estados Unidos sobre um acordo de livre comércio “empacaram” e há poucas chances de um acordo neste ano, disse o presidente da França, Francois Hollande, nesta terça-feira (30).
Em um discurso a embaixadores, ele acrescentou que poderia não apoiar um acordo que seria concluído antes do fim do mandato do presidente dos EUA, Barack Obama, em janeiro do próximo ano. “As negociações estão empacadas, posições não foram respeitadas, é claramente um desequilíbrio”, disse ele.
“A França prefere encarar o problema de frente e não criar a ilusão de fechar um acordo antes do fim do mandato do presidente dos Estados Unidos”, acrescentou.
Mais cedo nesta terça-feira, o ministro de Comércio da França, Matthias Fekl, disse que solicitaria o fim das negociações sobre o Acordo Transatlântico de Comércio e Investimento (TTIP, na sigla em inglês) em uma reunião de ministros europeus em setembro.
O secretário de Estado de Comércio Exterior francês informou que o governo vai solicitar em setembro à Comissão Europeia o fim das negociações. “Não existe mais apoio político da França para as negociações, assim o país pede o fim das negociações”, afirmou Matthias Fekl à rádio “RMC”.
Ele justificou a demanda por considerar que as negociações para criar uma TTIP estão desequilibradas a favor dos interesses dos Estados Unidos e não dos países-membros da União Europeia.
“Os americanos não dão nada ou apenas migalhas (…) Entre aliados não se negocia assim”, lamentou o ministro. Ele afirmou que as negociações terão que começar novamente mais adiante.
“Temos que parar de maneira clara e definitiva estas negociações para recomeçar com novas bases”, disse.
Fekl também disse que a França apresentará o pedido em setembro, durante a reunião de ministros do Comércio Exterior da UE em Bratislava (Eslováquia).
O secretário do Comércio não disse quando nem em quais condições poderiam começar as novas negociações. Mas o calendário aponta para depois da eleição de um novo presidente nos Estados Unidos, que só vai tomar posse em 2017.
Os dois principais candidatos à presidência americana, a democrata Hillary Clinton e o republicano Donald Trump, já criticaram duramente o acordo.
TRATADO
O acordo, negociado em sigilo entre Washington e a Comissão Europeia desde meados de 2013, tem o objetivo de eliminar as medidas regulamentares e comerciais para criar uma grande zona de livre comércio e estimular o crescimento econômico.
Nos últimos meses, as negociações foram afetadas pelas críticas de muitas ONGs, que temem que o tratado afete a legislação ambiental europeia em favor das grandes empresas.
Também são cada vez maiores as dúvidas dos próprios governos europeus. Na Alemanha, muitas vozes são contrárias ao acordo, inclusive dentro da coalizão de governo. Mas a chanceler Angela Merkel defende o projeto.
RESPOSTA
Horas depois das declarações dos representantes franceses, a comissária europeia do Comércio, Cecilia Malmström, respondeu e afirmou que as negociações “não fracassaram”.
“As negociações são difíceis, com certeza, sabíamos desde o início, mas não fracassaram”, disse à imprensa em Bruxelas.
“Tínhamos o objetivo e continuamos (…) de concluir (as negociações) até o fim do mandato de Obama, em janeiro de 2017”.
“E, se isto não for possível, é lógico fazer o maior progresso possível”, completou.
“Sei que o debate tem sido muito duro nos dois países, tanto na França como na Alemanha (…) Não sei porque os comentários são feitos neste momento”, disse Malmström.
“Mas isto não reforça minha posição como negociadora”, concluiu.