Os anos de cobertura esportiva abriram minha mente para um mundo diferente. Uma realidade baseada em fatos, mais dura e por vezes amarga quase sempre mais chata e menos apaixonante que àquela comum ao torcedor em geral. 

Em contato com os bastidores do futebol, conheci um universo de acontecimentos e fatos que não chegam da forma que deveriam chegar aos ouvidos e olhos do torcedor fanático. Coisas esquisitas, atitudes contestáveis e situações que fariam corar de vergonha o maior dos trambiqueiros e deixar constrangido o mais ligeiro dos malandros.

Tipo teorias da conspiração, ideias toscas, negociatas esquisitas, promessas mal feitas e mal cumpridas. Tudo feito, pensado construído e destruído tento a paixão dos torcedores como combustível principal. A paixão que cega, não só de vez em quando. Cega quase sempre.

Avaliações feitas sob a influência das cores ou do escudo de determinado time (ou de alguns dirigentes, no caso) prejudica a compreensão da realidade.

Ao mesmo tempo em que tive contato com esse submundo da boa, mantive meu vínculo com as arquibancadas por entender que meu trabalho como jornalista deveria impactar na vida das pessoas que consomem o futebol e fazem dele uma religião. Não mais como torcedor de um time só, mas como um admirador de todos defensor deste esporte como arte.

Estreitei o contato com torcedores de vários times, conheci muita gente boa, discuti com um caminhão de gente tonta e aprendi um bocado sobre a percepção que cada um deles tem do futebol, da imprensa esportiva e de seus times como instituição. Vi abnegados fazendo o bem, desmistificando as torcidas organizadas, tentando reconduzi-las para um caminho melhor, mas também vi muita cagada sendo feita em nome de um time ou de uma facção.

Fiz esse preâmbulo desgraçado de comprido para dizer que tá na hora do torcedor parar de ser ingênuo (ou trouxa). Passou da hora desse povo mostrar o seu verdadeiro valor. Eles têm que parar de tentar assumir a postura de donos do time e simplesmente torcer. Largar mão de ser massa de manobra, de agir conforme o interesse dos times e agir verdadeiramente com o coração, ir para o estádio e contribuir.

A missão do sócio-torcedor é ainda mais importante. Não que ele seja de fato mais importante que os outros torcedores, como Mario Celso Petraglia já deu a entender diversas vezes. Mas é ele quem tem o poder de escolher um presidente capaz de parar com o circulo vicioso da relação diretoria/torcida. Por dinheiro e promessas vãs, vendem suas almas e a pureza do torcer a quem melhor os ilude.

A torcida Os Fanáticos é o último grande exemplo disso. Por uma fé cega ou ingenuidade confiou em promessas de um renovado relacionamento com a diretoria atleticana, com mais espaço e liberdade para festar. Hoje se vê mais fraca diante da blindagem que o clube lhe impôs goela abaixo. Bem feito? Sim, porque avisos não faltaram de que isso inevitavelmente iria acontecer.

No Paraná a passividade do grosso da torcida me irrita profundamente há anos. O time já esteve em condições de voltar para a Série A várias vezes, mas o torcedor não ajudou. Esporadicamente parecia mostrar algum tipo de reação, mas novamente jogava 2.500 torcedores nas arquibancadas, ao invés dos 12 mil sonhados. A torcida Fúria Independente, que para mim é a mais organizada e a de melhores atitudes que todas em Curitiba, se perdeu numa falsa aura de representatividade por ter um de seus ex-presidentes na diretoria. Hoje ela se vê de mãos atadas em fazer um algo mais justamente pela saia justa de se considerar um pouco culpada pela situação do time.

Já o torcedor do Coritiba se acostumou a ver, impassível, a luta eterna contra o rebaixamento. Primeiro escolhe mal seus representantes dentro do clube e teima em não aproveita as chances que o destino lhe dá para mudar sua própria história. Ao invés de analisar o contexto, prefere disparar briguinhas virtuais e mimimis contra adversários, nutrindo um ranço de inveja e amargor sem precedentes. Muito disso, aliás, influenciado por gente de dentro, incompetente, que prefere fomentar briguinhas com a imprensa do que verdadeira trabalhar para mudar a situação vexatória do time nos últimos anos.

Aproveitando que estamos às vésperas das eleições para prefeito e vereador, lembro que o poder do voto do sócio-torcedor tem igual importância na vida de um clube. Use o seu com inteligência e ajude a tirar seu time e seus semelhantes da vala comum do futebol paranaense.

Eduardo Luiz Klisiewicz é curitibano, jornalista, radialista e empresário.