MARCELO NINIO WASHINGTON, EUA (FOLHAPRESS) – Donald Trump abriu sua campanha presidencial, há pouco mais de um ano, com uma bombástica declaração sobre os imigrantes mexicanos, dizendo que muitos eram criminosos e estupradores. Nesta quarta (31), a convite do presidente do México, Enrique Peña Nieto, que já o comparou a Hitler, o candidato presidencial republicano fez uma visita-relâmpago ao país vizinho.

O inesperado encontro gerou promessas de ambos de trabalhar juntos, mas também expôs as diferenças entre os dois. Duas das principais propostas de campanha de Trump atingem diretamente o México: a deportação de todos os imigrantes “ilegais” dos EUA e construir um muro na fronteira com o país. Metade dos sem documentos são do México. Peña Nieto prometeu trabalhar com o próximo presidente americano, seja quem for, mas “com base em respeito mútuo”, para fortalecer as relações. O mesmo convite para um encontro foi feito a Hillary Clinton, a rival democrata de Trump na disputa presidencial.

IMIGRAÇÃO

Peña Nieto lembrou que a imigração de mexicanos para os EUA vem caindo nos últimos anos e deu um jeito de repudiar as acusações de Trump. “A população americana nos EUA contribui para o desenvolvimento tanto no México como nos EUA. São pessoas honestas, trabalhadoras, pessoas de boa vontade, que respeitam a família. Os mexicanos merecem respeito”, disse o presidente mexicano. A seu lado, Trump acompanhava o discurso com a ajuda de uma tradutora. Para o empresário, foi uma bem-vinda oportunidade para ele se mostrar mais “presidencial”, além de reforçar o apelo aos hispânicos. O encontro ocorreu poucas horas antes do esperado discurso programado para esta quarta no Estado de Arizona, em que Trump promete esclarecer sua política imigratória. Em desvantagem nas pesquisas, Trump passou a apelar nos últimos dias às minorias negra e hispânica, e suavizou sua retórica linha-dura sobre imigração.

CAMPANHA

O convite do presidente mexicano veio em boa hora para Trump, que tenta se recuperar nas pesquisas, a dez semanas da eleição presidencial. Depois do encontro de cerca de uma hora, o bilionário agradeceu o convite, “uma honra”, mas reiterou a ideia de construir o muro. “Nós reconhecemos e respeitamos o direito de qualquer um dos países de construir uma barreira física ou um muro em nossa fronteira, para deter a entrada ilegal de pessoas, drogas e armas”, disse Trump. Questionado por repórteres sobre a outra parte de sua promessa, de que o México pagará pelo muro, o candidato republicano foi evasivo. “Não conversamos sobre isso”.

Trump aceitou o convite apesar das recomendações contrárias da embaixada americana na Cidade do México, preocupada com o pouco tempo para cuidar da logística, principalmente o esquema de segurança, num país em que o bilionário é odiado por muitos devido a suas declarações. Fugindo a seu estilo de alta exposição midiática, a chegada do bilionário à Cidade do México e sua entrada no palácio presidencial foram mantidas fora do alcance das câmeras. Além da antipatia popular, a preocupação é maior devido aos altos índices de criminalidade no México.

Também não é um bom momento para Peña Nieto, que segundo as pesquisas é o presidente mais impopular dos últimos 25 anos. O convite a Trump intrigou analistas mexicanos, alguns especulando que seria uma forma de desviar a atenção de seus problemas domésticos. O mais recente envolve a primeira-dama, Angelica Rivera. A ex-estrela de novela usa um apartamento em Miami que pertence a uma grande construtora do México, que concorre a concessões públicas em licitações.

CRÍTICAS

Não faz muito tempo, Peña Nieto disparou duras críticas a Trump, comparando suas “expressões estridentes” e “soluções simples” à estratégia populista que levou ditadores como Adolf Hitler ao poder. “Foi assim que [Benito] Mussolini chegou e foi assim que Hitler chegou”, disse o presidente mexicano em março, acusando Trump de causar dano às relações bilaterais. As reações no México foram de surpresa e repúdio à visita. “Entendo perfeitamente por que Trump quer se reunir com Peña Neto, mas não entendo em absoluto porque Peña Nieto aceitaria se reunir com Trump”, disse o historiador Carlos Bravo Regidor. Hillary Clinton, a rival democrata de Trump na disputa presidencial, menosprezou a visita de Trump afirmando que “dar um pulo” no país vizinho para uma foto não é a forma de construir parcerias. “Não se forma uma coalizão insultando nossos amigos ou agindo como um canhão descontrolado”, disse Hillary durante um evento em Cincinnati, Ohio (meio-oeste).