MARCELO TOLEDO
RIBEIRÃO PRETO, SP (FOLHAPRESS) – Após o advogado Mauro Rogério Silva dos Santos, 51, ter sido agredido por policiais durante protesto contra o impeachment de Dilma Rousseff em Caxias do Sul, na serra gaúcha, o presidente nacional da OAB, Claudio Lamachia, se reuniu com a Brigada Militar, pediu rapidez na investigação e disse que fatos como esse não podem se repetir.
Um vídeo mostra Santos apanhando de policiais militares na última quarta-feira (31). Na sequência, um rapaz, filho do agredido, chuta a cabeça de um dos policiais, que desmaiou e chegou a ter convulsões.
“Pedimos que fosse feita uma apuração rápida e rigorosa do caso. Entendemos que, pela prova inicial que se tem, que é o vídeo em que o colega advogado sofreu agressão, a Brigada tem de maneira rápida de tomar uma atitude em relação ao tema. Até porque vivemos um momento difícil, diferenciado no Brasil, com muitas manifestações, e não se pode imaginar que nelas possamos ter agressões como essa que observamos”, disse Lamachia nesta sexta-feira (2).
O vídeo foi divulgado pela Mídia Ninja, grupo de jornalistas independentes, mas é de autoria desconhecida. Ao menos três policiais aparecem na cena. As imagens mostram Santos sendo atingido com cassetete na cabeça, na barriga e nas pernas por um policial, enquanto outro PM o segura.
Em outro momento, Santos está no chão e dois policiais o agridem. O registro mostra na sequência um rapaz correndo e chutando a cabeça de um dos policiais, que estava abaixado.
De acordo com o dirigente da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil), Santos está fisicamente bem, embora “um pouco machucado”.
“Situações como essa não podem se repetir […] A investigação foi aberta e temos de aguardar. Somos os primeiros a defender o amplo direito à defesa de qualquer cidadão”, disse.
Lamachia foi a Caxias do Sul com dois membros da comissão nacional de defesa das prerrogativas e valorização da advocacia da OAB.
MOTIVO
O advogado agredido contou que costuma buscar o filho na saída da faculdade, por volta das 22h, mas por causa do protesto encontrou-o um pouco mais tarde.
O protesto já havia acabado quando Santos chegou ao centro da cidade a pedido do filho, que junto com um grupo de jovens, assistia a abordagem policial a uma mulher e a um adolescente, apontados como autores de pichações contra o presidente Michel Temer (PMDB). As pichações chamavam Temer de “golpista”.
“Peguei minha carteira da OAB e me dirigi aos policias com cautela. ‘Sou advogado’, eu disse. ‘O senhor se retire’, um deles falou, já muito perto de mim. Logo um deles me empurrou e não consegui nem falar mais, me deram voz de prisão”, disse o advogado.
Depois de agredir o PM, o filho do advogado, Vinicius Zabot dos Santos, 21, levou dois tiros da polícia de arma não-letal, na perna e nas costas -as marcas se assemelham a tiros de sal, segundo o advogado.
O filho de Santos agora é investigado pela Polícia Civil por tentativa de homicídio. Ele passou a noite na Penitenciária Industrial de Caxias do Sul e obteve liberdade provisória na manhã de quinta (1º).
O policial atingido com o chute na cabeça foi o soldado Cristian Luiz Preto, 32, que desmaiou e chegou a ter convulsões, segundo a Brigada Militar (a PM gaúcha). Preto ficou internado no Hospital Pompeia e recebeu alta no final da manhã. Segundo a corporação, ele sofreu uma concussão.
O motivo que provocou a cena filmada tem versões diferentes. Pela justificativa da polícia, Santos teria interferido na abordagem dos supostos pichadores e atrapalhou o trabalho da polícia.
Segundo o delegado Rodrigo Duarte, os policias teriam reagido depois que o advogado deu uma cabeçada em um dos soldados, quebrando seus dentes. De acordo com o delegado, o vídeo divulgado nas redes sociais não mostra a agressão feita pelo advogado.