Aqueles especialistas que sabem tudo sobre como fazer o seu dinheiro render e garantir até viagem para o Japão, afirmam: investindo 250 reais todos os meses, um casal poderá viajar até Tóquio em 2020 para assistir a Olimpíada.

E não é para pouco tempo, não. É para uma viagem de 15 dias. Dizem que é só uma questão de planejamento durante quatro anos. Os orçamentos iniciam em R$ 14 mil para quem viaja no estilo mochileiro, e R$ 18 mil para um casal de sonhos modestos. Os planejadores indicam os investimentos mensais em Tesouro Direto ou fundos simples. Nos títulos públicos o papel recomendado é o Tesouro Selic.

Sempre tenho na cabeça a pergunta que nunca teve resposta: os planejadores são pessoas com sucesso financeiro, ficaram ricos com suas próprias dicas? Ou são como os videntes, que descobrem tudo do passado, presente e futuro de quem está pagando a consulta, mas não conseguem descobrir quando é que o barranco no fundo da casa vai desabar nos seus próprios muros. Enfim… de sonhos vivemos todos.

QUATRO ANOS DE PLANEJAMENTO
Quatro anos é mais do que suficiente para ler e conhecer um pouco do país no outro lado do planeta. Com ou sem planejamento financeiro.

Arquipélago situado no mar, a leste do continente asiático, tem a leste de suas ilhas o gigantesco Oceano Pacífico. Num espaço de 20 a 45 graus de latitude norte, possui mais de 3 mil ilhas que se espalham de nordeste a sudoeste, numa superfície total de 370.000 quilômetros quadrados. Uma terra pequena e estreita, que abriga mais de 100 milhões de pessoas.

Diferentemente do Brasil, por se encontrar no hemisfério norte, no Japão a zona fria está no norte e a zona quente, no sul.

Há mais de 20.000 anos atrás, o Japão era ligado ao continente asiático, mas erupções e mudanças físicas separaram o território na forma de várias ilhas, formando o atual arquipélago nipônico. Apenas há 2.000 anos o Japão começou um tipo de sociedade agrícola com o cultivo do arroz em vez da caça e pesca, apresentando desde esta época a característica de um país. A partir do século VII e princípio do século VIII iniciou o estabelecimento de um sistema de governo próprio, unindo todo o país.

Mais tarde, tendo uma relação estreita com os países estrangeiros vizinhos – China e Coréia – absorveu a cultura destes países e adaptou os novos conhecimentos para seu próprio desenvolvimento. A influência também se fez no campo da Arte, com músicas e danças da Coreia do Sul e da Índia, que se misturaram no decorrer do tempo à arte tradicional japonesa, as cerimonias e danças na Corte Imperial e nos Templos.

Como o povo se dedicava à agricultura, cada estação do ano tinha festas comemorativas com representações, danças e cantos que refletiam a alma do povo. Hoje é através das artes que o visitante aprecia o sentimento japonês.


Trajes típicos, som de tambores, danças rituais: é o Japão milenar nos dias de hoje

FESTAS TRADICIONAIS
De setembro a outubro a época é de muito trabalho para o agricultor. É tempo de colheita, tempo de receber o fruto de seu suor, quando o arroz é ceifado, depois de seis meses. Depois da colheita, hora de agradecer a Deus, na festa outonal. É hora da Okunchi, celebrada em Nagasaki, região de Kyushu. As riquezas da região são destacadas e o ponto alto é a dança da serpente. Normalmente os agricultores japoneses trabalham muito e economizam o máximo possível, não gastando muito em comida e roupas. Mas na época dos festejos, comem, bebem e vestem com luxo, gastando todas as economias na ocasião. As festas regionais mostram a alegria singela, a alma e a cultura do povo.

Yudachi Garaku marca o começo do inverno, logo depois de terminada a festa outonal. Nas províncias do norte a neve cai no fim de outubro. Desde sempre a estação fria, quando o sol e a terra perdem calor, é sinal de que a alma do universo e a alma das pessoas ficam mais fracas. Para que não acontecesse a catástrofe, é realizada a festa. A água é fervida dentro de uma caldeira de ferro, que tem na parte superior um símbolo de Deus, para o pedido de graça e força, através da água quente. Depois de feito o pedido, as pessoas celebram a cerimônia recebem a água no corpo que os aquece por fora, como a força de Deus os fortalece por dentro.

Segundo a crença, o povo japonês gosta sempre de purificar e renovar seu espírito antes de receber mais um Ano Novo, acreditando que esta força divina os ajuda a prosseguir no caminho da vida e do bem.

Ta-Osobi é festa realizada nas regiões rurais no princípio do ano. Todos os agricultores se reúnem , cantando e recitando, demonstrando a vida do cultivo do arroz, que dura seis meses, desde o reajustamento do terreno, semeadura, plantio das mudas, até a ceifa da colheita. Um tipo de dança ritual é mantido, repetindo o que os ancestrais faziam ao pedir uma boa colheita.

Taue-Odori – a dança Taue-Odori também é uma arte de imprecação no Ano Novo nas cidades rurais. As jovens se vestem como camponesas e demonstram em gestos como plantar as mudas para uma boa safra de arroz. É um bailado atrativo, com as moças muito maquiladas, colocam na cabeça chapéus de flores que são chamado de Hanagasa.

Yasurai-Matsuri – no Japão a primavera é comemorada entre fins de março e meados de abril, quando as plantas começam a brotar e surgem as primeiras cerejeiras em flor.É época de muito trabalho para os agricultores. Uma das muitas razões da flor da cerejeira ser considerada como flor típica do Japão. Ela tem significado tão simbólico quanto a flor do arroz. Porque, segundo a tradição, quando as cerejeiras floresciam com todo esplendor, seria um sinal de que a colheita do arroz também seria boa. Mas se um vento forte fizesse as flores caírem antes do tempo, já era um aviso de que a colheita seria pobre. Primavera é a época do ano em que o povo procura os jardins das cerejeiras em flor, para fazer piqueniques debaixo das árvores, desejando também o crescimento normal das flores de arroz. Se as flores das cerejeiras caem, os japoneses lastimam sua curta vida e rezam pela sua paz.

Há rituais nos festejos do templo shintoísta de Imamiya em Quioto, quando homens de todas as idades pulam e saltam, acompanhando o ritmo dos tambores, tentando expulsar o espírito maligno que fez cair as flores das cerejeira antes do tempo.

Assim era comemorada a Yasurai-Matsuri.


Festas e rituais milenares mantém as tradições no Japão

Hana-Taue – o mês de julho é época do início do plantio do arroz. As moças, em trajes típicos, fazem fileiras plantando asmudas nos campos irrigados, ao ritmo de seus cantos. O plantio das mudas é uma das grandes festas no Japão, quando os pedidos de proteção dos arrozais e um ano de boa colheita são feitos ao deus da Agricultura. Enquanto as jovens dançam e cantam, outras tocam tambores e flautas. A festa já tem mais de mil anos de existência.

Amagoi-Odori é festa para pedir chuva. É que qualquer plantação de arroz precisa da água como elemento vital para seu crescimento. O mês de julho no Japão é destacado no plantio, porque é uma época de muita chuva. Quando acontecida uma seca geral nos meses de julho e agosto, época do crescimento do arroz, os lavradores se reuniam e dançavam pedindo chuva, batendo tambores para despertar o deus da chuva. Os tambores não eram simples instrumentos, mas algo mágico, capaz de expulsar o mau espírito e captar o coração e a boa vontade dos deuses.

Gion-Matsuri é a mais antiga das festas japonesas, historicamente conhecida com um conteúdo luxuoso. É destaque em Quioto. Há mais de mil anos houve uma grande epidemia que matou muita gente com doenças contagiosas em Quioto, a antiga capital do país. Naquele tempo, quando acontecia alguma desgraça como moléstias, secas e inundações, o povo achava que tudo era obra do espírito das pessoas falecidas, que deixavam no mundo em que viveram, suas penas e ressentimentos. A festa era realizada para acalmar a ira dessas almas descontentes e o ritual foi chamado de Goryo-E.

A festa de Gion é uma comemoração deste estilo, uma grande e pomposa procissão ao som de tambores e sinos, percorrendo o pequeno monte que há na cidade, até chegar ao lago .O acontecimento virou tradição e foi realizado todos os anos, entre junho e julho.

Bom-Odori –No passado, quando o Japão utilizava o calendário lunar, as pessoas consideravam os dias entre 15 de janeiro e 15 de julho, os mais importantes e marcantes do ano, por serem dias de lua-cheia. O 15 de janeiro era o Ano Novo, segundo a antiga maneira de contar. Até hoje em algumas cidades rurais é festejado o Pequeno Ano Novo. Já no dia 15 de julho é cdelebrado o Obon, dia de finados. Nas casas japonesas há cantos e danças durante a noite, para alegrar e chamar a alma de seus antepassados e amigos já falecidos. A idéia é significar que eles não foram esquecidos, e que continuam por perto, dentro de todos os corações. As pessoas do bairro ou região, se agrupam em roda, colocando no centro um palco com tambores, dançando e cantando junto para desejar paz neste e no outro mundo. O povo acredita que fazendo a festa bem alegre, atraem quem já morreu para voltar do outro mundo e participar com os vivos na dança ritual.

Conhecer um pouco o povo japonês e sua vontade de purificar e renovar o espírito antes de qualquer grande acontecimento, apreciar sua arte e suas comemorações folclóricas, é conhecer um pouco da sua vivência e sua história. Comece já.