O Brasil com z nunca esteve tão presente e durante tanto tempo seguido nas manchetes da mídia internacional. Acostumado a ser visto como um país abençoado por Deus e bonito por natureza onde a alegria do carnaval e as curvas das mulatas eram sempre o seu forte, de repente passou a ganhar destaque pelas mazelas e desgraças que parecem ter vindo para ficar, ao menos por alguns anos mais. A má fase começou com o mensalão, estendeu-se pelas vaias a Dilma na Copa do Mundo de futebol e desaguou no megaescândalo de corrupção que fez desabar a Petrobrás, uma das maiores empresas do globo. Então veio a Operação Lava Jato lembrando as mãos limpas italianas e, aos poucos se fazendo inevitável, a demissão da presidente da República num sólido movimento executado pelos poderes legislativo e judiciário. A grande imprensa internacional deu-se conta de que tinha um tesouro midiático nas mãos, o que fez surgir centenas e logo milhares de brazilianist, repórteres que, mesmo quase nada conhecendo sobre o país, ao serem recebidos com cordialidade e graça pelos brasileiros, sentiram-se à vontade para expressar a suas matrizes opiniões formadas no calor da fornalha política (e econômica) que ardia principalmente em Brasília, no Rio e em São Paulo, onde todos eles se alojaram.

Com a chegada das olimpíadas, os experts da mídia externa se prepararam para cobrir o caos iminente. Verdade que os nacionais faziam de tudo para que assim fosse. O governador carioca decretou um estado de calamidade, enquanto um soldado do Comando Militar da Amazônia fuzilava uma bela onça pintada na passagem da tocha por Manaus. A turma se divertiu, mas nada de mais aconteceu e nem os esperados terroristas apareceram. A cobertura geral, até então, estava centrada na crise econômica. Em junho Jed Rakoff, um juiz federal norte-americano, acatou uma ação de investidores que pretendiam receber indenizações milionárias face à fraude massiva praticada pela Petrobrás.
As coisas de fato mudaram de rumo ao final do processo do impeachment. Dias melancólicos para a democracia brasileira, disse o New York Times (NYT), enquanto o britânico The Guardian resumia um julgamento que se generalizou ao dizer que não foi só a carreira de Dilma Rousseff que ruiu e sim o sistema democrático brasileiro em seu todo. Internamente, à medida em que a presidente se esvaia e o Partido dos Trabalhadores ficava isolado e reduzido a uma pequena (embora ruidosa) bancada no Senado federal, perdendo apoio na sociedade, o grupo ainda no poder optou por investir na formação de imagem internacional com base na tradicional mídia de esquerda, principalmente a francesa e a espanhola, difundindo seu conceito de que era vítima de um golpe. A rede Al Jazeera mostrou um vídeo procurando responder a pergunta: Was President Rousseff impeachment a coup? (o impedimento foi um golpe?). O El Pais de Madri na edição em português, depois de sugerir um Brasil do céu ao inferno, partiu para o trocadilho infame em seu editorial: Um Brasil de temer.
Aos poucos, com a sede de escândalo aplacada, as análises começam a ficar mais racionais. Afinal, como lembrou o Los Angeles Times, poucos governos no mundo teriam sobrevivido a tal tempestade perfeita feita de fatores políticos e econômicos. E o Brasil, mal ou bem, ultrapassou a borrasca. Com o impeachment superado, o próximo desafio do Brasil é sua instável economia afirmou o NYT. O humor da mídia global vai mudar, e para melhor, desde que nosso país consiga consertar suas próprias avarias.

Vitor Gomes Pinto
Escritor. Analista internacional