Futebol é feito basicamente de emoção. Emoção e espetinho de gato ao final da peleja. Nada mais saboroso que uma carne no palito de procedência duvidosa. Ela (ele, no caso, o espetinho) é capaz de compor um cenário perfeito de vitória, forrando o bucho do torcedor satisfeito, ou aplacar a frustração daquele que viu mais uma atuação pífia daquele atacante que não sabe fazer gol ou do goleiro que catou borboleta.

Resolvida a questão do espetinho na vida de um ~gordo~ torcedor que não bebe cerveja, falemos um pouco mais da emoção que é fundamental para a existência do nosso tão amado futebol. É comum falarmos ou ouvirmos coisas do tipo: De virada é mais gostoso ou Orra (eu disse ORRA), nosso time só ganha na emoção.

Deixando de lado os resultados dos jogos em si, nossos times — Atlético, Coritiba e Paraná — realmente gostam de uma emoção.

Senão vejamos o Atlético. Nas mãos (ou dedos, ou pitacos) de Mario Celso Petraglia, a vida dos rubro-negros sempre foi recheada de emoção. Desde seu primeiro ato, lá em meados dos anos 90, quando assumiu o controle do time, transformou o Furacão na potencial potência que ele é hoje, até as recentes dispensas de Walter e Vinícius.

É uma do cravo, uma na ferradura. Acerta de um lado, erra do outro. Ganha admiradores por uma atitude e coleciona quilos de haters por outras. E assim é o dia a dia do atleticano. Libera a Fanáticos, proíbe a Fanáticos. Contrata reforço de peso, dispensa aposta de futuro. Aposta (e insiste) em apostas de futuro que têm um presente de pesadelo, mas abre mão de bons valores porque eles não têm vínculos muito longos.

No futebol é difícil se prever muita coisa, mas para o torcedor atleticano era evidente que a manutenção da base e treinador do time sensação de 2013, responsável por levar o Furacão à Libertadores e à final da Copa do Brasil, era o melhor negócio. Para o presidente, não. E dá-lhe time desmontado e campanha ruim em 2014.

Porque, em nome dos Deuses da bola, mexer desse jeito na estabilidade psicológica do time em 2016? Tem motivo, então me fala. Aliás, fala para o torcedor. Não adianta ficar de indiretinhas aqui e acolá. O ano vinha muito bem para o Furacão. Mesmo não gostando muito de seu estilo, o técnico Paulo Autuori encaixou o time com maestria e tudo vinha funcionando muito bem, mesmo que Walter não estivesse em fase brilhante e Vinícius não fosse o 10 dos sonhos do torcedor.

Aí chega o temido mês de agosto, tradicional mês das contratações urgentes para salvar a temporada de um novo fiasco, e o mexe-mexe dessa vez vem onde não se previa mexida alguma. É muita emoção pra quem estava quieto.

Até hoje eu e toda uma nação de torcedores espera uma justificativa sincera da diretoria atleticana, mas ficamos apenas com o silêncio de mais um rompante de um presidente que se gaba de ser um gênio da administração e um homem à frente do nosso tempo, mas que segue sem o mínimo tato em lidar com gente e com a paixão dos atleticanos.

Hoje o atlético voltou a ser um time comum. Não fosse o monstro do Thiago Heleno e o talento do Weverton, a coisa estaria muito mais feia.

Ainda falta muito campeonato e dá tempo de transformar esse turbilhão de emoções em bons resultados. Uma vaga na Libertadores? Bem viável. Risco de queda? Nulo. Chance de perder ou embranquecer mais uns cabelos? Certa, quase certa.

Eduardo Luiz Klisiewicz é curitibano, jornalista, radialista e empresário.