DIOGO BERCITO MADRI, ESPANHA (FOLHAPRESS) – Na lista de “emojis” disponíveis no Whatsapp, aquelas figurinhas enviadas nas mensagens, há diversas mulheres. Com coroa, vestida de noiva, dançando, cortando o cabelo e pintando a unha. Mas a estudante saudita Rayouf Alhumedhi, 15, não se enxergava ali. Ela queria representar-se como se vê no espelho: vestindo um véu. Alhumedhi pede agora a criação do símbolo de uma mulher cobrindo o cabelo. A proposta foi acolhida pelo Unicode Consortium, que cuida da criação dessas figuras, e tem o apoio de atores de peso nas redes sociais. Os “emojis” são uma ferramenta popular na comunicação entre jovens, que por vezes se comunicam só com essas imagens. O dicionário de Oxford incluiu um rosto chorando de alegria como a “palavra do ano” de 2015. Mas essa linguagem enfrenta o desafio de como representar a variedade de seus usuários, seja pela cor da pele ou por seu gênero. Jennifer Lee, que trabalha no comitê de “emojis” do Unicode Consortium, é uma das entusiastas da proposta de Alhumedhi. Ela ajudou a jovem saudita, que mora em Berlim, a formatar a ideia. “As pessoas querem se ver representadas. Um ruivo, por exemplo, ou alguém que não se identifique com um gênero específico”, diz à reportagem. “Serem representados é uma maneira de eles sentirem que existem, que são importantes”, afirma. O caso do véu islâmico é especialmente delicado. Essa vestimenta é criticada em países como a França, que recentemente baniu o “burquíni” (traje de banho que cobre corpo e cabelo). Para críticos, o véu é símbolo da opressão da mulher no islã e deve ser proibido. ESPAÇO Alhumedhi usa o véu desde os 13 anos de idade. Segundo o texto de sua proposta, consultado pela reportagem, “ela interessou-se pelos ‘emojis’ depois de tentar encontrar uma imagem que lhe representasse e a seus amigos no teclado do iPhone”. Milhões de mulheres muçulmanas se orgulham de usar o véu, diz o texto, “mas não há um único espaço no teclado reservado a elas”. A jovem aponta, além disso, que há um símbolo para um homem com turbante. O processo para que um “emoji” seja de fato implementado, porém, é longo. Depende das discussões no comitê, e também que empresas desenvolvam as figuras. A mulher com véu pode aparecer nos smartphones apenas no fim de 2017. Mas a proposta de Alhumedhi tem um padrinho importante, Alexis Ohanian, co-fundador do Reddit (rede social de discussões), e o apoio técnico necessário para desenvolver o código. “Ela está entre os jovens de 15 anos mais impressionantes que já conheci”, Ohanian escreveu em seu perfil oficial no Facebook. “Os ‘emojis’ podem não parecer grande coisa, mas é mais uma maneira para que muitas pessoas se sintam reconhecidas e representadas.”