RODRIGO VIZEU SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O empresário Rogerio Chequer conta que estava em uma festa no começo de 2014 quando, ao ouvir os convidados reclamarem do governo, mergulhou em pensamentos que o levaram a concluir que urgia criar um movimento de rua contra Dilma Rousseff. Juntou amigos e, meses depois, montou o Movimento Basta, que investiu R$ 30 mil em vídeo para convocar uma manifestação -que, sonhavam, levaria 1 milhão de pessoas às ruas na véspera do primeiro turno da eleição. O vídeo foi um fracasso, eles foram chamados de “petistas disfarçados” por usar a cor laranja e o ato teve quatro pessoas, Chequer incluído. Em 13 de março deste ano, o movimento de Chequer, rebatizado de Vem Pra Rua, ajudou a levar 500 mil pessoas à av. Paulista, segundo o Datafolha, na maior manifestação política da história do país. No recém-lançado “Vem Pra Rua – A História do Movimento Popular que Mobilizou o Brasil”, Chequer e o cofundador Colin Butterfield relatam as trapalhadas do começo do movimento, seu crescimento e a relação com outros grupos de rua e políticos. Descrevem no livro o que chamam de “alegria cívica” que sentiam nos protestos. “É um bem-estar parecido com aquele que você sente depois de fazer ginástica e perceber que ficou mais saudável.” Relatam a emoção com o verde e amarelo nas ruas e a relação amigável com a PM. Ideologicamente, definem-se a favor de um Estado pequeno, que busque eficiência de mercado e que cuide das “parcelas mais pobres”. Rejeitam a divisão direita/esquerda. LAMENTOS Com tom mais moderado que os outros grupos que disputaram protagonismo nos atos anti-PT -o MBL (Movimento Brasil Livre) e o Revoltados Online-, os autores descrevem o desconforto de terem a seu lado nos protestos partidários de intervenção militar e políticos de carreira. Os impasses entre os movimentos aparecem na competição pelo melhor lugar na Paulista, na definição de pautas (o VPR tomou mais tempo para aderir à tese do impeachment) e de agenda de atos. “Fiquei muito irritado com a chamada do MBL”, diz Butterfield, referindo-se ao espaço curto entre dois atos de 2015 -o segundo teve público reduzido e o governo tripudiou. Definindo o grupo como suprapartidário, os autores reclamam de serem associados ao PSDB -em 2014, apoiaram Aécio Neves, dizem, “por simples conjuntura”. Ressaltam que sempre se sustentaram com recursos próprios. Outro lamento é serem apontados como elitistas. “Gostaríamos de ter os mesmos direitos para fazer isso [protestar] que qualquer outro cidadão”, escrevem. Com o prosseguimento do processo de impeachment, a pressão se estendeu dos protestos de rua para os gabinetes no Congresso. Chequer e Butterfield contam como montaram um “mapa do impeachment” na internet para expor parlamentares indecisos ou anti-impeachment. Membros do grupo organizaram atos até em frente às casa de familiares de políticos. Com o PT fora do Planalto, o livro se dedica a apontar caminhos para o movimento, como a defesa do voto distrital e de reformas estruturais. À reportagem Chequer disse ver no governo de Michel Temer “aspectos positivos e negativos” e cobrou “maior conexão” com a sociedade que foi às ruas. “Estão isolados.” O líder do movimento que começou antigoverno repetiu a dedicatória que Butterfield deu em exemplar do livro para Temer e afirmou: “O presidente pode contar com o Vem Pra Rua para implementar as pautas que estamos defendendo”, citando as reformas trabalhista e previdenciária. “Com esse alinhamento, estamos abertos a ajudar.” “Vem Pra Rua – A história do movimento popular que mobilizou o Brasil” Autores: Rogerio Chequer e Colin Butterfield Editora: Matrix Quanto: R$ 39,90 (292 págs.)