LUCIANA DYNIEWICZ
BUENOS AIRES, ARGENTINA (FOLHAPRESS) – Após ameaçar o governo argentino de Mauricio Macri com uma possível greve geral de 24 horas, a principal sindical do país, a CGT (Confederação Geral do Trabalho), recuou.
Após reunião com o governo nesta quinta-feira (29), a entidade informou que dará mais dez dias para que Macri analise suas demandas.
A realidade é que nenhum dos atores quer uma paralisação. Os sindicatos utilizam a ameaça como forma de pressão e o governo tenta dialogar para evitar uma greve que pode fragilizá-lo.
Mais fortes que os brasileiros, os sindicatos argentinos têm grande poder de influenciar as decisões políticas e parar o país. Prova disso é que o próprio presidente Macri já recebeu os dirigentes das principais centrais para negociar reajustes de salários.
Desta vez, os representantes dos trabalhadores se reuniram com os ministros Alfonso Prat-Gay (Fazenda), Jorge Triaca (Trabalho) e Rogelio Frigerio (Interior).
Entre as reivindicações estão a isenção do imposto de renda sobre o 13 salário e um bônus de pelos menos 5.000 pesos (cerca de R$1.000) para compensar os reajustes salariais fixados neste ano que ficaram abaixo da inflação.
“A média dos aumentos foi de 37%, enquanto a inflação anual está em 43%”, disse o dirigente sindical Jorge Alberto Sola.
Além de ter que analisar sua situação fiscal para atender os trabalhadores, o governo precisará negociar com a classe empresarial as reivindicações.
De acordo com Sola, os ministros mostraram disposição para estudar os pedidos. O Ministério do Trabalho informou que prioriza o diálogo.
Uma das explicações para o poder de barganha dos sindicatos argentinos é o grande volume de filiados. Dos trabalhadores formais, cerca de 40% são ligados à alguma entidade -no Brasil, esse índice não chega a 20%.
Os sindicatos na Argentina também são ricos, têm universidades, hotéis, meios de comunicação e, principalmente, um sistema de saúde próprio.
Na história do país, greves gerais conseguiram enfraquecer governos já debilitados, sobretudo os de presidentes não peronistas, como é o caso de Macri -a maioria dos sindicatos são ligados ao peronismo.
Raúl Alfonsín (1983-1989) enfrentou 13 paralisações e Fernando de la Rúa (1999-2001), nove. Nenhum deles terminou o mandato.